Concluo hoje a apresentação das listas dos melhores de 2020. Hoje falo do que li sobre música em 2020. Li mais livros, alguns bem anteriores a 2020. Mas das novas edições sobre (e com) música, aqui fica uma seleção. Escolhas e textos: Nuno Galopim

INTERNACOONAL: “Sweet Dreams – The Story of The New Romantics”, de Dylan Jones
O modelo de construção de narrativas a que muitas vezes se chama “história oral” tem-nos dado alguns belos livros. Do já “clássico” Anthology sobre (e com) os Beatles ao recente coro de vozes que Jon Savage convocou para contar a história dos Joy Division, o lote cresce e acolhe agora mais um título que vale a pena ler. Assinado por Dylan Jones, um veterano do jornalismo musical britânico, o livro tem por título Sweet Dreams – The Story of the New Romantics. Mas ao contrário de uma incursão anterior por este mesmo território em The Look, de Davi Rimmer (que juntava impressionante documentação visual), o novo livro não só investe muito mais no texto do que nas imagens como alarga consideravelmente o espectro da sua abordagem, criando um arco narrativo que se estende, por dez anos, a partir de 1975.
A lista dos livros sobre música que li este ano inclui dois volumes da série 33 1/3, um deles dedicado ao álbum de estreia dos Massive Attack, o outro sobre Switched on Bach de Wendy Carlos. Curiosamente, e face ao relativamente escasso volume disponível de informação sobre esta importante pioneira da música eletrónica, 2020 assistiu ao lançamento de mais um outro livro, esse outro correspondendo a uma soberba biografia assinada por Amanda Sewell. A história dos Kraftwerk observada sob um prisma atento a uma noção de identidade cultural alemã foi outra das boas leituras do ano.
“Blue Lines”, de Ian Bourland
“Glitter Up the Dark: How Pop Music Broke the Binary”, de Sacha Geffen
“Il Festival di San Remo”, de Eddy Anselmi
“Kraftwerk: Future Music from Germany”, de Uwe Schütte
“Melancolique Rodeo”, de Jean Michel Jarre
“Rockonomics”, de Alan B. Krueger
“Switched on Bach”, de Roshanak Kheshti
“Wagnerism – Art and Politics in the Shadow of Music”, de Alex Ross
“Wendy Carlos – A Biography”, de Amanda Sewell

NACIONAL: “Amália – Ditadura e Revolução”, de Miguel Carvalho
Era preciso um livro como este. Pelas mais variadas razões. Para resolver velhos equívocos e arrumar o clássico “quem conta um conto acrescenta um ponto” que muitos teciam, cada qual à sua maneira, ao encarar as vivências políticas de Amália antes e depois de 1974. Mas o livro serve sobretudo para enqudardar esse apuramento de factos e opiniões em quadros mais vastos, desde a própria narrativa de vida (e obra) de Amália Rodrigues até mesmo à relação dos dois regimes (Amália nem tinha chegado à escola quando caiu a I República) com a sua figura e o próprio fado. O ponto de partida foi uma longa e meticulosa investigação jornalística, da qual tínhamos já saboreado numa edição especial da Visão publicada há alguns meses. Amália – Ditadura e Revolução, leva Miguel Carvalho a aprofundar a contextualização dos factos que apresentara nesses textos de saboroso “aperitivo”, acrescentando olhares bem documentados (e narrativamente bem estruturados) sobre várias etapas da vida de Amália, levando a bom porto o desafio de contar uma história sem ter de a agarrar inevitavelmente a uma única linha cronológica. Os tempos vão-se cruzando. As memórias vão-se arrumando. E no fim a amplitude do retrato é ampla, atenta e muito esclarecedora.
A seguir lanço alguns outros títulos sobre música e discos/livro editados entre nós este ano. Uns já li. Os outros já aqui estão na lista de próximas leituras a fazer…
“Amália nas Suas Palavras”, de Manuel da Fonseca
“António Variações”, de Teresa Couto Pinto
“À Minha Maneira – Livro 2 2000-2020”, de Ana Ventura
“De Almada Para o Mundo”, de António Manuel Ribeiro
“Musonautas – Visões & Avarias”, de vários autores
“Não Dá Para Ficar Parado”, de Vítor Belanciano
“Os Beatles e a Censura em Portugal”, de Abel Soares da Rosa
“Onde”, de Paulo Praça
“Rádio Bukowski”, de Charles Bukowski, Guilherme Lucas e Pedro Sousa Pereira
Como dizia mais acima, li outros livros este ano. Houve muita BD (como sempre), sobretudo revisitando Hugo Pratt e os universos criados por Edgar P. Jacobs. Andei muito pela ficção científica e, entre vários títulos, reli “Dune” de Frank Herbert, à espera do filme que afinal ficou para 2021… Da não ficção de 2020, e para além dos domínios da música, gostei do livro de divulgação científica do paleontólogo norte-americano Steve Brusatte “A Ascensão e Queda dos Dinossauros”, que me deu oportunidade de conversar um bom bocado com o autor (a entrevista foi publicada no Expresso).