Editado em 1972 o álbum “Walter Carlos’ Clockwork Orange” juntou quase toda a música criada para o filme de Stalney Kubrick, incluindo versões integrais de algumas peças e até material que o realizador não usou no filme. Texto: Nuno Galopim

Quando Wendy Carlos soube que Stanley Kubrick ia adaptar ao cinema o romance “A Laranja Mecânica” de Anthony Burgess uma luz acendeu-se alertando-a para uma eventual colaboração. É que recentemente tinha trabalhado uma adaptação (ao moog) de música de Beethoven, tal como o havia feito com Bach e outros mestres do barrco nos seus dois primeiros discos. Pediu à sua agenda que entrasse em contacto com a equipa de Kubrick e fez-lhe assim chegar não apenas cópias dos seus dois discos como uma gravação da adaptação de parte do quarto andamento da “nona” de Beethoven e de “Timesteps”, uma nova composição sua, ainda inédita, que gravara recentemente.
Kubrick, que tinha já imaginado uma banda sonora com gravações de peças de música clássica (tal como havia acontecido com o anterior “2001: Odisseia no Espaço”), ficou entusiasmado com o que escutou, chamou imediatamente Wendy e a produtora Rachel Elking a Londres e ambas regressaram a Nova Iorque com uma encomenda de mais música para o filme. Kubrick usou elementos das duas peças novas que lhe tinham sido enviadas no filme e, depois, versões de peças de Rossini, Purcell e (mais de) Beethoven, em que entretanto, Wendy Carlos trabalhou. No fundo, seriam de Wendy Carlos as visões sobre as peças de música clássica que Kubrick tinha já em mente. E, de resto, ao escutar a abordagem a “Music For The Funeral of Queen Mary” o próprio realizador fez ajustes na montagem para que o filme ganhasse o mais possível com a contribuição de Wendy Carlos.
Kubrick usou grande parte das peças que recebeu (algumas em segmentos curtos, é certo), mas deixou algumas de fora. E perante a edição oficial da banda sonora, lançada pela Warner, a Columbia editou em 1972 “Walter Carlos’ Clockwork Orange”, álbum no qual surgem as versões completas de peças usadas no filme, juntando ainda “Country Lane”, um inédito de Wendy Carlos e rachel Elkind que foi uma das composições que Kubrick não usou. Outras, como “Orange Minuet”, “Pop Pourcell” ou “Biblical Daydreams” só surgiriam em disco algum tempo depois, entre a reedição em CD deste álbum (que o apresenta definitivamente como “Wendy Carlos’ Clockwork Orange”) e o díptico “Redescovering Lost Scores”, um par de álbuns (em CD) com música para cinema lançado em 2005.
A face A do álbum inclui as duas peças que Wendy e Rachel enviaram a Kubrick no seu primeiro contacto. Um excerto (com 7 minutos) do quarto andamento da Sinfonia Nº 9 de Beethoven e “Timesteps”. Com 14 minutos de duração, esta foi a primeira composição de Wendy Carlos a chegar a discos e revelava uma visão de fôlego capaz de levar para outros destinos a abordagem, via Moog, que até ali tinha sido aplicada à criação de novos pontos de vista para peças de música clássica.