As canções pop luminosas de Chris Baio

O baixista dos Vampire Weekend acaba de editar “Dead Hand Control”, um terceiro disco a solo no qual não se afasta muito da linha de álbuns anteriores, valorizando mais do que nunca um tom otimista e luminoso que sabe bem escutar em tempos difíceis. Texto: Nuno Galopim

Longe dos ritmos de outras eras – nos sessentas lançavam-se muitas vezes dois álbuns por ano, nos setentas e oitentas o ritmo abrandou, mas manteve-se habitualmente coisa anual – os ciclos de vida dos discos fazem com que as longas temporadas de estrada e pausa afastem frequentemente por dois ou três anos entre si a edição de muitos álbuns de estúdio. E com os Vampire Weekend entregues a calendários bissextos (Father of The Bride saíu em 2019, o anterior Modern Vampires of The City, em 2013), nada como estarmos atentos ao que, em nome próprio, ou entre colaborações, os seus elementos nos vão mostrando. Já encontramos o vocalista Ezra Koenig em várias parcerias, assim como vimos Rostam Batmangilj na pele de produtor ou até mesmo a dividir com Wesley Miles (dos Ra Ra Riot) a breve (mas bem estimulante) vida do projeto paralelo Discovery, antes mesmo de se afastar do grupo e tomar o seu caminho a solo (mas sem fechar a porta a colaborações com os velhos amigos). Chris Baio, o baixista do grupo, começou por editar alguns EPs em nome próprio, aos quais fez seguir os álbuns The Names (2015) e Man of The World (2017), lançando as bases de uma discografia que agora recebe a chegada de Dead Hand Control, um terceiro álbum.

Convém talvez lembrar que as vivências musicais de Chris Baio não se cingem ao universo revelado nos Vampire Weekend e que, antes de ter encontrado o grupo entre colegas da Columbia University (onde estudou russo e matemática) tinha já integrado outras bandas e, sobretudo, trabalhado como DJ, apresentando-se como Baio. E foi por aí que começou a desenhar a sua discografia a solo em primeiros EPs editados em 2012 e 2013 onde deixava clara essa vontade em retomar uma relação mais próxima com a música de dança, terreno pouco evidente no universo Vampire Weekend.

Depois de primeiras pistas ensaiadas em Sunburn, a sua música encaminhou-se para os domínios da canção, mantendo as ferramentas eletrónicas numa linha da frente do protagonismo instrumental, embora ensaiando ideias de uma pop mais luminosa, sem necessariamente procurar as soluções mais habituais nas suas experiências de música de dança. The Names e Man of The World lançaram bases para uma identidade pop diferente, mas na verdade compatível, com os caminhos elegantes talhados pelos Vampire Weekend (Ezra Koenig, de resto, colabora na escrita de uma das canções). O novo Dead Hand Control em nada parece querer contrariar esteticamente o quadro de referências que têm ditado o caminho a solo de Baio, embora o disco experimente em mais momentos do que os LPs anteriores o desafio de desenhar canções capazes de transcender o formato pop mais radio friendly. Luminosa, pessoal, focada ora em questões pessoais (mas transmissíveis) ora em temas mais universais (desde a memória de Bowie à América de Trump), a pop de Baio é coisa saborosa (e até mesmo otimista) para ajudar procurar alento em tempos difíceis.

“Dead Hand Control”, de Baio, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Glassnote Entertainment Group LLC.

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