
Um dos principais construtores de ma das mais marcantes visões para a música de dança na primeira metade dos anos 80, o produtor, músico e editor discográfico norte-americano Bobby Orlando, muitas vezes referido também como Bobby O (na verdade Robert Phillip Orlando) é autor de uma obra que, além dos discos gravados em nome próprio, passa ainda por colaborações (marcantes) por nomes como Divine (Native Love e Shoot Your Shot são dois exemplos da parceria), os The Fast (futuros Men 2 Men) ou os Pet Shop Boys. Bobby Orlando foi, de resto, uma presença marcante no lançamento da obra em disco do duo constituído por Neil Tennant e Chris Lowe e frequentemente é lembrada a história da viagem que o primeiro, como jornalista da Smash Hits, fez a Nova Iorque em 1983 para entrevistar os Police, de lá regressando com o “OK” do produtor (que procurara) para produzir os Pet Shop Boys, assim nascendo, em 1984, primeiras edições a 45 rotações de West End Girls e One More Chance.
Rotulado como hi-nrg (ler high energy), o som característico de Bobby Orlando tem raízes em memórias recentes do disco sound, mas acrescenta-lhes uma visão noturna futurista que envolve os muito característicos sequenciadores robóticos, baixo sintetizado, a presença de campanas (as “cowbells” referidas em língua inglesa) na percussão e registos vocais em sintonia com o que a new wave colocara em voga. Com impacte na noite de Nova Iorque algo semelhante ao que Patrick Cowley então ia gerando em São Francisco, a música de Bobby O facilmente entusiasmou quem visitava a cidade. E dos New Order aos já citados Pet Shop Boys, a sua influência foi imediatamente sentida em terrenos de diálogo entre a canção pop e a música de dança.



Se no plano do reconhecimento em esferas pop os singles criados com os Pet Shop Boys ou Divine terão alcançado algum mediatismo maior, a verdade é que é na obra editada em nome próprio (ou através do projeto The Flirts que ele mesmo criou para dar vida a algumas criações) que surgem as ideias e experiências que depois ganhariam outra amplitude e impacte mais adiante. Escute-se Helpless (You Took My Love) das Flirts e reconheça-se ali a base de uma visão hi-nrg da qual emergiria pouco depois High Energy de Evelyn Thomas ou até mesmo Self Control de Laura Braningan. Já By By Beat, editado em nome, parece um ensaio do que depois Divine apresentaria em Native Love (Step By Step).
Apesar da vasta produção recente, é num intervalo entre 1982 (o ano de She Has a Way, single de estreia a solo) e 1985 que encontramos a etapa mais criativa e consequente da obra de Bobby Orlando. Juntando versões máxi originais de temas a solo, as The Flirts e parcerias com Divine, Pet Shop Boys, Roni Griffith ou Joe Michael, I Love Bobby O é uma bela montra da visão que Bobby Orlando levou à pop e às pistas de dança. A coisa é datada, claro. Mas, ainda hoje, irresistível.
“I Love Bobby O”, juntando contribuições de vários artistas, é uma compilação em CD editada pela Blanco Y Negro.