O novo projeto a solo do teclista dos Duran Duran junta-o a uma cantora, violinista e artista visual. Juntos criaram música que surgirá em quatro álbuns a editar nos próximos 12 meses. O primeiro “Astronomia I: The Fall of Saturn” acaba de ser editado. Texto: Nuno Galopim

Os projetos Arcadia, The Devils, TV Mania. A produção do álbum de estreia dos Kajagoogoo, participações em discos dos Dandy Warhols, Riviera F ou de Mark Ronson, curadoria (a meias com John Taylor) da compilação Only After Dark, que documenta o que seria um DJ set no Rum Runner Club na viragem dos setentas para os oitentas… Isto sem falar do livro de polaroides Interference ou a colaboração numa remistura de “Personal Jesus” dos Depeche Mode… Nick Rhodes é claramente o mais ativo dos elementos dos Duran Duran quando o grupo está de férias. E num ano diferente, com o grupo forçado a desacelerar a conclusão do sucessor de Paper Gods, álbum que supostamente deverá surgir este ano, eis que mergulhou a fundo na conclusão de uma ideia iniciada há cerca de dois anos e que parte de um esforço de colaboração com a artista visual, violinista e cantora britânica Wendy Bevan que, em 2016 lançou, Rose & Thorn, um álbum de canções para voz, eletrónica minimalista e cordas (no qual colabora o Balanescu Quartet).
Nick Rhodes e Wendy Bevan começaram a juntar as peças para esta ideia em 2018. E durante o ano de 2020, com ele em Londres e ela em Los Angeles, completaram 52 composições inspiradas pelo universo, daí o título Astronomia que agregará os quatro álbuns que a dupla irá lançar ao longo dos próximos 12 meses, cada qual devendo surgir por ocasião dos equinócios e solestícios. Assim aconteceu com Astronomia I: The Fall of Saturn, que acaba de surgir nas plataformas digitais num lançamento da Tape Modern, a etiqueta dos próprios Duran Duran. Para já não há ainda qualquer informação sobre um eventual lançamento em qualquer suporte físico.
O universo, e em particular, o sistema solar, serviram já de inspiração a outros “ciclos”, desde a suite sinfónica Os Planetas de Gustav Holst (onde na verdade as alusões aos planetas se devem mais a uma dimensão astrológica e mitológica do que astronómica) ou o mais recente projeto Planetarium, que nasceu de uma colaboração entre Sufjan Stevens, Nico Muhly, Bryce Dessner e James MacAlistair. Para já, neste volume 1, Nick Rhodes e Wendy Bevan mergulham no espaço mais confinado de um sistema planetário em particular. O que tem por protagonista o sexto planeta do sistema solar: o gigante de grandes anéis… Saturno.
Notas longas, texturas elaboradas, numa abordagem que pisca o olhar à música “ambiente” mas aceita igualmente uma pulsão cinematográfica que alia um sentido narrativo à presença de uma cenografia, a música parte das potencialidades de teclados analógicos e da presença do violino e da ocasional utilização de vocalizações para, sob um interesse em explorar texturas e sons, avançar entre Saturno, os seus anéis e luas, tal e qual as tintas que, pelas mãos de um pintor, procuram aventuras no espaço de uma tela. Ao mesmo tempo esta é uma música que acaba por expressar os tempos que vivemos. Fala de distâncias – as que separam os planetas, as que separavam os dois músicos – mas no fim encontra elos de ligações e, com eles, a proximidade.
Em primeiras palavras nas quais procuraram explicar o disco, Nick Rhodes e Wendy Bevan notaram que o universo pode qui ser tomado numa dimensão real, libertando até um pensamento sobre a fragilidade do nosso pequeno mundo perante a imensidão do cosmos. E, ao mesmo tempo, pode ser um mundo de sonhos. A vastidão do universo contempla todas estas possibilidades. E neste primeiro volume a sensação de liberdade e encantamento ilumina a música. Começa bem este ciclo… Resta esperar pelos volumes seguintes. E pela sua eventual edição em suporte(s) físico(s).
“Astronomia I: The Fall of Saturn”, de Nick Rhodes e Wendy Bevan, é uma edição da Tape Modern já disponível nas plataformas digitais (para streaming e download)