
Quando, em 1981, Hoy No Me Puedo Levantar chegou às estações de rádio em Espanha foi como se, de repente, não só uma nova geração mas também a movida que então emergia na noite madrilena, ganhassem uma exposição maior. O sucesso foi imediato, mas a verdade é que antes ninguém o imaginava com esta expressão, nem mesmo a editora que apenas tinha um acordo inicial com o grupo para a edição de um single. A verdade é que o impacte deste single dos Mecano, juntamente com a força pós-punk de Alaska Y Los Pegamoides (estreados em 1980 com Horror en el Hipermercado), o entusiasmo dos Radio Futura (que também em 1980 tinham cantado o hino rock Enamorado de La Moda Juvenil) e as aventuras eletrónicas dos Aviador Dro (que tinham já lançado o single La Chica de Plexiglas), permitiu dar visibilidade maior a uma nova frente criativa numa pop espanhola que, dado um percurso social e político do país algo semelhante ao vivido em Portugal, conhecia então um momento de “boom”. Celebrando a ressaca daqueles que, na manhã depois da noitada, não tinham força para sair da cama, Hoy No Me Puedo Levantar sugeriu rapidamente laços de empatia entre um novo público que ganhava voz como força de mercado (e nas políticas de programação das rádios). Contudo, mais do que apenas a sugestão dessa sintonia geracional, o trio, que juntava os irmãos Nacho e Jose María Cano e a cantora Ana Torroja, cedo mostrou que era uma força maior pensada em sintonia com as movimentações estéticas em curso nos planos internacionais da música pop, não deixando contudo, ao longo de toda a sua obra, de sublinhar bem claramente as suas marcas de identidade.
O sucesso de Hoy No Me Puedo Levantar, ao qual foram reconhecidas as qualidades dos arranjos de Luis Cobos e da produção de Jorge Álvarez, não lhes garantiu, porém, senão uma ordem para gravar um novo single. E então nasceu Perdido em Mi Habitacion, que sublinhou as afinidades que os Mecano já haviam demonstrado para com as linhas mestras de uma emergente pop eletrónica e que causou impacte social por traduzir um sentido de aborrecimento e frustração muito característicos dos dias de adolescência. Lançado em dezembro de 1981, o segundo single confirmou o perfil de maior visibilidade que o trio estava a conquistar, abrindo assim caminho à gravação de um primeiro álbum que, com o título Mecano, chegou às lojas em abril de 1982.
Com afinidades sonoras para com o que então se escutava em discos de bandas britânicas como os Human League ou Soft Cell, com uma imagem que piscava claramente o olho aos new romantics, sob sinais de procura de uma sintonia europeia (ao cantar Cenando en Paris ou Boda en Londres) e celebrando a modernidade da movida urbana em Quiero Vivir en la Ciudad, a magnífica estreia dos Mecano em álbum reuniu o trio num estúdio de Madrid uma vez mais com o produtor Jorge Alvarez. As canções contaram com arranjos de Luis Cobos, que juntou teclados adicionais, efeitos especiais e percussão eletrónica a gravações que, com corte para acetato feito depois num estúdio londrino, garantiu ao disco um patamar de exigência sonora que não o secundarizou perante a oferta pop que então chegava do Reino Unido ou França. Coube então a mais três singles – Me Colé en uma Fiesta, o irresistível Maquillage e No Me Enseñan La Leccion –, que sublinharam o tom festivo e juvenil da comunicação, a definitiva transformação deste álbum num fenómeno de popularidade, ao mesmo tempo assinalando um episódio de afirmação de novos valores para a pop made in Espanha.
Nem tudo foi um mar de rosas e, à distância, leio relatos que recordam vozes locais que terão reagido à postura de ousadia formal de uma música e uma imagem que rompiam com tradições… Mas logo no álbum seguinte os Mecano responderam ao assimilar um passo doble no corpo de uma canção pop em Fiesta Nacional…
Mecano corresponde ao primeiro álbum de um conjunto de LPs que definem uma etapa inicial que cresceu em regime de evolução na continuidade em Donde Esta El Pais de Las Hadas? (1983) e o belíssimo mas talvez menos fácil de digerir Ya Viene El Sol (1984), encerrando-se essa etapa com um disco ao vivo editado em 1985. Só depois chegaria uma etapa de sucesso colossal que se definiria (inclusivamente com expressão internacional) pelo impacte dos álbuns Entre el Cielo Y el Suelo (1986) e Descanso Dominical (1988), ao que se seguiria o derradeiro Aidalai (1991) e, mais tarde, uma breve reunião que traria alguns inéditos no alinhamento da compilação Ana, José, Nacho, em 1998. Com mais impacte na América Latina, em França ou Itália do que entre nós, os Mecano chegaram a editar singles para o mercado português e a visitar-nos até em tempo de agenda promocional. Os mais atentos escutaram-nos. Mas a história discografia do grupo merecia maior atenção por estes lados.
José Cid tem uma versão de “Haway Bombay” no seu duplo álbum de 1991. Curiosamente no disco que começa com um tema de Tony Carreira e onde há uma versão de “Sempre Que O Amor Me Quiser” e várias gravações.
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regravações de temas antigos.
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