Entre as paisagens digitais de Jimmy Tamborello

Uma das forças criativas dos Postal Service, Jimmy Tamborello continua a juntar peças ao seu percurso como Dntel. O novo “The Sea Trees See” é o primeiro de um par de álbuns que o músico norte-americano pretende editar este ano. Texto: Nuno Galopim

Explorador de caminhos possíveis através de linguagens e ferramentas da música eletrónica, o norte-americano Jimmy Tamborello tem um percurso que recua aos dias de juventude nos quais ensaiou, em casa, ideias com primeiras caixas de ritmos, sequenciadores, teclados e um gravador. Gravou um primeiro disco como Antihouse em 1993, passou a integrar o coletivo Figurine no ano seguinte e e a trabalhar regularmente como DJ, surgindo o nome Dntel um pouco mais adiante, mas só com primeiras edições em disco lançadas por alturas da viragem do milénio. Em 2001 o primeiro álbum que o apresentou como Dntel chamava várias colaborações, de Mia Doi Todd a Chris Gunst dos Beachwood Sparks, entre outros mais, surgindo em (This is the) Dream of Evan and Chan a voz de Ben Gibbard dos Death Cab For Cutie. E do impacte desse encontro nasceriam os Postal Service, de cuja memória se guardam alguns belos discos que marcaram a história da canção eletrónica com travo indie nos primeiros anos do século XXI. Com obra essencialmente criada a partir desse momento e até 2005, e um ponto final devidamente confirmado por alturas de uma reunião pontual em 2013, os Postal Service são hoje um marco com sabor a passado no percurso de Jimmy Tamborello que reativou o protagismo do seu caminho mais pessoal como Dntel em 2006, tendo mantido uma atividade regular que se mantém, ao invés das visões ensaiadas como Postal Service, em terrenos mais exploratórios. E é esse o trilho que o conduz a The Seas Tees See, o primeiro do par de álbuns que pretende lançar este ano.

            Essencialmente instrumental, apesar dos episódios vocais que se desenham na versão de The Lilac and The Apple que abre o alinhamento (num registo quase acapella, com voz processada) no storytelling falado de The Man From The Mountain, da canção que se escuta em Fall In Love ou em ocasionais vocalizações, The Seas Tees See é uma viagem que pode partir de uma música essencialmente abstrata mas que, pela contextualização sugerida pelas (poucas) palavras, os títulos, a própria imagem da capa e as tonalidades folktronic (com sonoplastia adicionada) que ouvimos em After All, nos coloca em ambiente de montanha e floresta. Uma banda sonora feita de ambientes sugeridos, pequenos detalhes digitalmente desenhados, valorizando mais uma noção de cenografia (e de espaço) do que uma condução de melodias The Seas Tees See é um fruto, criado no nosso tempo, de genéticas lançadas por Brian Eno e outros ensaístas da música ambiental. Não vivemos aqui necessariamente nas periferias do silêncio, mas numa realidade ficcionada da qual a música sugere um desenho feito com sons. O álbum é uma viagem plácida, com sabor a mistério (característico de quem dá passos no desconhecido) e descoberta. Não destoa radicalmente de pistas anteriormente percorridas por Tamborello como Dntel. Mas as pinceladas parecem mais seguras e ao mesmo tempo mais discretamente sugestivas do que nunca. Uma boa experiência para quem gosta de música que sugere “ambientes” e que assinala a estreia de Dntel na Morr Music editora que já lançou nomes como os Lali Puna ou Múm e onde, convenhamos, esta música faz todo o sentido.

“The Seas Tees See”, de Dntel, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Morr Music.

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