Criado para uma exposição de fotografia de Sebastião Salgado, o novo disco de Jean Michel Jarre sugere uma imersão em sons e sensações, juntando gravações de campo com elementos criados com a ajuda de ferramentas eletrónicas. Texto: Nuno Galopim

Criada para a Philharmonie de Paris – que junta à programação de música uma outra de exposições – uma coleção de 200 fotografias da Amazónia, assinadas por Sebastião Salgado, promete viajar pelo mundo ao longo do ano (Londres, Roma e paragens sul-americanas seguem-se na agenda). E para acompanhar as imagens, criando assim uma experiência musical imersiva – que não é propriamente uma banda sonora – o francês Jean Michel Jarre foi convidado a criar um ciclo de peças que, agora, surgem reunidas num disco a que chamou, simplesmente, Amazônia.
Trata-se, assim, de um disco diferente de qualquer outro que Jean Michel Jarre já apresentou. Não pelo facto de se focar num tema – e os discos conceptuais não faltam na obra do músico francês. Mas pelo modo como, para servir um percurso feito de imagens que querem traduzir olhares sobre um mundo em particular – o da Amazónia, das plantas, animais e também das comunidades humanas que a habitam – Jean Michel Jarre optou por cruzar gravações locais (guardadas no arquivo do Museu de Etnografia de Genebra) com sequências instrumentais (inevitavelmente criadas com eletrónicas), desse diálogo entre o real e o “desenhado” surgindo um percurso feito de sons que assim acompanha o das imagens. E ele mesmo explicou já que lhe interessou explorar timbres e sensações, procurando manter-se o mais fiel possível a marcas do mundo que aqui quis retratar.
É claro que, mesmo estando o disco acompanhado por algumas imagens, o disco procura uma vida própria além da exposição. E aqui moram talvez as fragilidades de uma ideia que, eventualmente satisfatória no espaço físico da exposição, acaba com sabor a meia-coisa quando apenas reduzida a uma experiência áudio. É que por muito rica que seja a recolha de captações locais, a contribuição musical é esparsa, raramente procurando mais do que sugerir fundos e ambientes, raramente sugerindo momentos capazes de vencer a ausência do suporte visual que (na verdade) é a sua razão de ser. Ao mesmo tempo é com satisfação que vejo Jean Michel Jarre a descolar de uma música mais carregada de arquiteturas ritmicas mas sem particular expressão de identidade que tem apresentado nas suas mais recentes atuações (virtuais) “ao vivo”. Vejamos então este Amazônia como um postal que serve para lembrar a visita a uma exposição. Porque na verdade não parece conseguir fazer mais do que isso… É pena. E basta escutar, por exemplo, Wainting For Cousteau, para reconhecer como a sua música é capaz de muito melhor na hora de retratar uma figura, um ambiente ou até uma narrativa.
“Amazônia”, de Jean Michel Jarre, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Columbia