Sigue Sigue Sputnik “Love Missile F1-11 (Video Mix)” (1986)

Quando entraram no mapa das atenções, em finais de 1985, rapidamente dominaram páginas de noticiário (com grandes fotos) na imprensa musical. A imagem era possante, o discurso provocador feito de slogans estrategicamente lançados em entrevistas e T-shirts e a sua irónica auto-proclamação como quinta geração do rock’n’roll só podia gerar controvérsia. E a música? Bom, ninguém a tinha escutado, limitando-se as expectativas a acreditar na genealogia pop do guitarrista Tony James (ex-Generation X) e na conhecida rodagem do vocalista Martin Degville, um velho habituée das noites londrinas de alguns anos antes, quando o movimento new romantic ganhou forma.

Como nunca se tinha visto antes, lançaram uma mega-campanha por um acordo discográfico, à qual a EMI respondeu, com números apontados bem acima da média… Com entusiasmo de uns e sob o ceticismo de outros, e sempre sob uma constante cascata de comunicação focada na imagem e carregada de slogans, os Sigue Sigue Sputnik estrearam-se finalmente em disco em inícios de 1986 com Love Missile F1-11, uma canção pop claramente diferente das que estávamos habituados a escutar, nascendo de uma (bem sucedida) parceria em estúdio com o produtor Giorgio Moroder.

Sustida por uma colagem de módulos electrónicos repetidos à exaustão, adornada por samples de filmes como Blade Runner, Scarface ou A Laranja Mecânica, sons de explosões, pedaços de outras músicas, uma letra apocalítica de travo sci-fi e com atitude de puro showbiz pop, a canção marcou, de facto o seu tempo. A acompanhar a canção surgia um teledisco que traduzia literalmente por imagens os mundos sugeridos pelos sons. Colagens, citações (uma delas evidentemente apontada à Laranja Mecânica de Kubrick), imagens de atuações, letras desenhadas por computador (uma modernice na altura), imagens reais de ameaçadores cenários de guerra, planos da banda em poses de fama e glamour e ainda efeitos especias (de ouvir e de ver).

E, apesar dos narizes torcido de alguns o single de facto chamou atenções, transformou-se num êxito com dimensão internacional (talvez não tão gigante quanto o esperado), e a expectativa projetou-se em frente, aguardando as cenas dos próximos capítulos. Acontece que, editado meses depois, 21st Century Boy quase replicava a fórmula do primeiro single. E o álbum, Flaunt It, apesar de acrescentar algumas ideias (uma delas a suposta venda de espaço publicitário entre as canções), não revolucionou na verdade muito mais…

O discurso sobre a quinta geração do rock’n’roll acabou ali mesmo… Mas o single de estreia guarda contudo o sabor de um momento diferente e foi banda sonora para o desenho de um sonho de fama. É indubitavelmente um episódio a não ignorar para contar a história pop dos anos 80. E entre os lançamentos a si associados vale a pena procurar o máxi então lançado como Love Missile F1-11 – Original Motion Picture Soundtrack. Ou seja, a “banda sonora” do teledisco. O disco, no formato de 12 polegadas, apresenta a versão do trailer, a Video Mix, guardando no lado B as misturas mais convencionais dos dois temas originalmente apresentados no sete polegadas. Mais ainda do que as variações sobre a canção (na verdade com mais efeitos e citações), o apelo maior deste máxi é o design que trata de facto o disco como uma banda sonora (não faltam os créditos na contracapa) e duas evidentes citações à Laranja Mecânica de Kubrick, uma na foto que coloca o grupo num túnel semelhante a um que vemos no filme, outro no logótipo que apresenta o nome da banda som o mesmo lettering do poster original do sucessor de 2001: Odisseia no Espaço.

Um pensamento

  1. Como já tinha escrito antes aqui, os SSS acabaram por ser uns pré-KLF que não deram certo. Não que os próprios KLF/Jamms/Timelords/2K/K Foundation tenham durado assim tanto em termos práticos. Mas sempre foram (um pouco) mais consequentes, nem que seja porque a “What Time is Love” é, ainda hoje, lembrada – mesmo que muita gente nem saiba quem a tenha feito. E a verdade é que sempre há mais eco/falatório sobre este ressurginento digital dos KLF do que alguma vez houve sobre toda e qualquer reedição do Flaunt It – e já houve algumas.

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