44. Catherine Ribeiro + Alpes “Paix” (1972)

Este é o número 43 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas”… Foi editado em 1972 e apresenta uma visão nova para uma canção de alma política atenta aos desafios formais que o rock progressivo então colocava em cena. Texto: Nuno Galopim

Nascida em Lyon (França) e de ascendência portuguesa, Catherine Ribeiro tem uma obra em disco que, pelo impacte obtido nos anos 60, lhe valeu a presença na célebre foto que em 1966 foi tirada pela revista Salut Les Copains juntando as grandes figuras pop/rock da França de então e à qual se convencionou chamar a “foto do século”. O seu percurso iria contudo evoluir por caminhos bem distintos dos de muitos outros nomes ali reunidos. Tinha já filmado com Godard e foi até durante a rodagem de Les Carabiniers que conheceu Patrice Moullet, que seria um importante parceiro criativo, integrando ambos o coletivo 2Bis (que grava um álbum em 1969) mas que depois muda de nome quando, em 1970, e para o álbum Nº 2 (que inclui a Balada das Águas de José Afonso), se passam a apresentar como Catherine Ribeiro + The Alpes.

         É já sob essa designação que, dois anos depois, e após o intermédio Âme Debout (1971), apresentam o colossal Paix que traduz o alcançar pleno não apenas de uma linguagem musical mais exploratória, como evidencia as marcas de uma identidade no pensar das palavras, estas correspondendo à mais marcante das contribuições criativas da própria Catherine Ribeiro. A sua verve mais interventiva e até mesmo ativista, libertando uma voz que falará de grandes questões sociais e, sobretudo, políticas, do seu tempo, afirma-se em pleno, cimentando um estatuto que dela fará uma das principais figuras da canção de protesto na França dos anos 70. A paz (que dá título a uma das canções e ao próprio álbum) e a evidente evocação da guerra do Vietname em Un Jour… La Mort (a longa canção que ocupa a totalidade da face B do disco) definem o caminho das ideias que a música, livre das fórmulas habitualmente mais fechadas da canção pop(ular), transporta para um plano de maior desafio. Caminhos de afinidade para com o rock progressivo que então fazia escola no Reino Unido são possíveis, mas um sentido de teatralidade ligado à palavra e à sua cenografia são também aqui pilares estruturais de toda a criação.

         A exploração do som, de que este disco é uma evidência, alargou-se à procura de salas nas quais o grupo então atuava. A voz grave de Catherine (que não deixa de lado eventuais afinidades com a atitude cénica e o próprio timbre de Nico) a cenografia desenhada pelos instrumentos e a presença com algum protagonismo das teclas traduziam aqui uma etapa que tinha no organista Patrice Lemoine um papel determinante na assinatura sonora dos Alpes. Fez então história, precisamente em 1972, um concerto (com órgão) na catedral de Saints Michel et Gudule, em Bruxelas.

         A quer descobrir a obra de Catherine Ribeiro com os Alps, que se manteriam ativos como grupo até 1980, pode ter neste Paix um belo cartão de visita. A discografia do grupo está reunida numa caixa em CD lançada em 2015. Os três primeiros álbuns foram reeditados em vinil recentemente.

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