
Em 1983 o Festival da Eurovisão vivia um tempo de transição entre os novos emergentes modelos europop e a grande balada orquestral que havia definido os paradigmas do concurso nos últimos anos. E de desta última categoria saiu a muito canção vencedora – na voz de Corine Hermès, em representação do Luxemburgo – já o fulgor mais festivo das canções de Israel – Hi de Ofra Gaza – ou Jugoslávia – Dzuli, por Daniel – partilharam entusiasmos de gostos menos conservadores que abraçaram ainda a participação da sueca Carola Häggkvist (Främling), voz que regressaria à Eurovisão para vencer a edição de 1991. Curiosamente, terminada a votação, estas canções chamaram a si as posições imediatamente a seguir às da canção do Luxemburgo.
Mas um dos episódios musicalmente mais suculentos do ano ficariam por conta das canções mais desafiantes apresentadas pela Bélgica e por Espanha, mas que terminaram a noite respetivamente em 18º e 19º lugar (aqui ex-aequo com a Turquia, a zero pontos).
Retomando o tom de desafio que levara os Telex à Eurovisão em 1980, a Bélgica fazia-se representar pelo coletivo Pas de Deux, que terminara o processo de seleção local em primeiro lugar desde logo acendendo um caso de confronto entre espíritos mais ousados e gostos menos dados à mudança.
Rendez Vous levou então a Munique uma canção de formas invulgares, dominada pelo trabalho de percussão sintetizada, eletrónicas e um muito elaborado arranjo sobretudo focado nos cordas e metais, sobre o qual as vozes das duas cantoras – que de mostravam descalças e dançavam curvadas – iam repetindo as palavras: “Rendez-vous, maar de maat is vol en m’n kop is toe”… O tom algo nonsense da letra e o caráter desafiante da música não foram coisa de digestão simples. E a canção acabou por cativar apenas os pontos do Reino Unido (4), Espanha (8) e Portugal (1).