Vários Artistas “A Song For Eurotrash” (1998)

Do Volare (Itália 1958) que, na voz de David Bowie, surgiu em 1986 na banda sonora de Absolute Beginers, a uma leitura intensa, pelos Arcade Fire, de Poupée de Cire Poupée de Son (Luxemburgo, 1965), apresentada em 2007 num single double A side partilhado com os LCD Soundsystem, as canções criadas para o palco da Eurovisão são matéria prima que já por diversas vezes conheceram novas vidas em outras vozes. A lista é vasta e nela cabem por exemplo uma leitura de Waterloo (Suécia, 1974) pelos Dr. & The Medics ou Ele e Ela… e Eu (Portigal, 1966) dos Mler Ife Dada, assim como um álbum editado em 1997 pelas Mrs. Einstein, as representantes holandesas desse ano (e no qual cantavam versões de Love Games, Non Ho l’Etá ou Puppet on a String) ou pelo set de uma atuação online que o islandês Dadi Freyr (Islândia 2020 e 2021) apresentou no ano passado e na qual passou em revista alguns clássicos eurovisivos do seu país. Em 1998, no ano em que após longa dieta, a Eurovisão regressou ao Reino Unido, o programa de televisão Eurotrash, do Channel 4, dedicou uma atenção particular sobre este universo… Juntaram-se canções e artistas… E assim nasceu A Song For Eurotrash, um álbum de tributo às canções da Eurovisão.

            Não falta aqui o Te Deum de Marc Antoine Charpentier, que serve a banda sonora da vignette que abre todas as transmissões da Eurovisão. Porém a peça é apresentada numa reinterpretação eletrónica e ritmicamente intensa pelos 808 State… E depois, apesar de três faixas mais ligadas ao programa do Channel 4 do que ao universo eurovisivo – entre as quais o belo Saint Tropez de Brigitte Bardot – o alinhamento faz-se essencialmente de novas abordagens inesperadas a canções clássicas, todas elas colhidas entre memórias que vão de 1965 a 1980, cabendo a versão de Volare (a única representação da década de 50) a uma já antiga interpretação por Dean Martin.

            O tutano de A Song For Eurotrash escuta-se depois em Poupée de Cire Poupée de Son pelos Dubs Star com a colaboração de Sacha Distel, La La la (Espanha 1968) pelos Saint Etienne, Congratulations (Reino Unido, 1968), por Annie Christian, All Kinds of Everything (Irlanda, 1970) em dueto entre Terry Hall e Sinéad O’Connor, Waterloo pelas Bananarama, Ding A Dong (Holanda, 1975) por Edwyn Collins, Save Your Kisses For Me pelos Kenickie, A Ba Ni Bi pelos Fox Force 5 e What’s Another Year (Irlanda, 1980) por Shane McGowan & the Popes. O berço “brit” da coisa explica a relativa dieta de canções em francês (e houve muitos clássicos em francês nos anos 60 e 70) ou em italiano… E faltou aqui talvez entregar um Parlez Vous Français a uns M People ou algo assim… Mesmo assim, e à falta de mais aventuras deste calibre neste universo, A Song For Eurotrash é um belo exemplo de como a matéria prima eurovisiva pode ser fonte de boas versões. E basta ouvir a que aqui é apresentada pelos Saint Etienne para sentir que há ainda muito potencial a explorar nestes territórios…

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