Uma fuga interior entre as belas paisagens de Cheval Sombre

Disco companheiro de um outro álbum já editado este ano, em “Days Go By” volta a convocar parceiros habituais como Sonic Boom ou Dean Wareham para com eles criar um belo ciclo de canções tranquilas pelas quais podemos escapar à vertigem do presente. Texto: Nuno Galopim

Nasceu como Christopher Porpora, mas se o queremos escutar em disco então nada como procurar por… Cheval Sombre. Cresceu a ouvir discos de Donovan e Billie Holliday ao mesmo tempo que aprendeu por si mesmo a tocar guitarra. Na adolescência juntou ao mapa de referências nomes como os Velvet Underground, Modern Lovers ou Genesis P. Orridge. E mais tarde teve uma bada, começou a compor música que não escondia encantamentos pelas obras de Terry Riley ou Zbigniew Preisner e publicou poemas… Deu por si a colaborar com nomes como o ex-Spacemen 3 Sonic Boom ou com Dean Wareham e Britta Phillips, então nos Luna… E entre esta geografia de relacionamentos uma discografia em nome próprio – como Cheval Sombre – comelou a nascer em 2009, desde logo ativando parcerias com Sonic Boom e, depois Dean Wareham, contando ainda com colaborações de elementos dos MGMT. Tantos nomes para ajudar a enquadrar um percurso que incluía até aqui os álbuns Cheval Sombre (2009), Mad Love (2012), Dean Wareham Vs Cheval Sombre (2018), uma cassete gravada ao vivo com Sonic Boom (2013) e, já este ano, Time Waits For No One. Agora surge o belo Days Go By, um disco companheiro do outro álbum já editado em 2021 e com o qual sugere um díptico que o próprio grafismo da capa desde logo sugere.

         Na linha do seu percurso, e com evidentes afinidades com as pistas já este ano sugeridas em Time Waits For No One, o novo álbum de Cheval Sombre volta a convocar velhos parceiros, sendo claramente evidente a presença (nas teclas ambientais) de Pete Kember, ou seja, Sonic Boom, que assegura uma vez mais a produção. Dean Wareham, por sua vez, surge como guitarrista em Are You Ready, cabendo a Gilian Rivers (cordas) e Francisco Dias Pereira (piano) os restantes lugares num elenco discreto que sabe não afogar nunca abafar a voz de Christopher (que é tudo menos coisa sombria) e os seus diálogos sobretudo definidos com a guitarra acústica ou as longas notas que saem dos teclados. Entre ecos da folk e paisagens que por vezes evocam velhas visões dos Suicide (como no magnífico e minimalista He Was My Gang), Days Go By é um disco que foge à vertigem do presente, às convulsões do quotidiano. Pelo contrário traduz um mergulho na intimidade criativa de um poeta de sons e palavras, sugerindo um mundo mais tranquilo, “lentificado”, até mesmo aprazível, pelo qual sabe bem passar. De tanto que se fala da música como escape e de associa essa ideia a festa e folia, então escute-se Days Go By como uma alternativa de fuga interior. Igualmente saborosa e até mesmo terapêutica nos tempos que vivemos. Melancólico talvez. Mas nunca sombrio, apesar do nome.

“Days Go By”, de Cheval Sombre, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, num lançamento da Sonic Cathedral Recordings

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