Vários Artistas “TuttHIT Frutti – 20 Novos Sabores” (1980)

Estamos em 1980 e uma revolução está em marcha. Na verdade as bases estavam já a ser lançadas, mas é em 1980 que pela primeira vez surgem nos media janelas de maior comunicação sobre as movimentações de uma nova cultura pop juvenil. A rádio, a televisão e alguns jornais despertam para um espaço há muito vibrante noutros territórios mas que ente nós ainda não havia conhecido visibilidade mediática maior. E a música desempenhou então um processo determinante numa revolução em curso que teria consequências imediatas nos consumos de discos, transformando em pouco tempo a noção do que era um “êxito” entre nós. E assim, depois de primeiros retratos do mapa da popularidade no Portugal da segunda metade dos anos 70 surgidos entre os primeiros volumes de novas compilações de sucessos, a invasão pop/rock começava a mudar os próprios alinhamentos destes discos. Nascido num tempo de transição este Tutthit Frutti, disco da série Jackpot com o subtítulo 20 Novos Sabores, traduzia precisamente essas mutações em curso.

                  Não é por acaso que o alinhamento abre ao som do Chico Fininho de Rui Veloso, afinal um dos primeiros sinais do triunfo popular de uma nova música pop/rock nascida entre nós. Não há aqui mais exemplos desse “boom” do rock nacional, embora Bom Bom de Concha e Hoje Há Festa de Lara Li estejam muito mais perto de demandas pop do que dos espaços da canção ligeira. Mas os melhores aliados de Chico Fininho neste LP na verdade chegam de foram, com nomes então em evidência no plano pop (sobretudo de alma new wave) como So Long dos Fischer Z, Gates of Steel dos Devo, Turning Japanese dos Vapors, Echo Beach de Martha & The Muffins (um clássico no departamento dos one hit wonders), It’s a Night For Beautiful Girls dos Fevers, ou a emergente pop eletrónica pelos Orechestral Manouevers in the Dark, ao som de Electricity. Sem o fulgor com que recentemente o disco marcava estes alinhamentos, a club culture surgia representada pelos hot Chocolate com No Doubt About It. Já com pedrigree feito nos 60s e 70s surgiam ainda contribuições dos Shadows, os ligeirinhos Racey e Suzi Quatro. Do departamento “já ninguém se lembra” está ainda aqui Tired of Toein’ The Line de Rocky Burnette. Quem? Pois, ninguém se lembra…

                  Mas se por um lado esta compilação com título engenhoso piscava o olho a uma nova cultura jovem, por outro sabia que não podia ainda alienar um gosto mais popular que aderia habitualmente a estas compilações anunciadas na TV… E se Eu Tenho Dois Amores de Marco Paulo surge aqui como êxito maior vindo desse espaço, entre o alinhamento encontramos ainda canções como A Gente Cresce, Cresce de Joel Branco, Recordaçõs de Ti de Laureano ou Menina Meu Amor do belga Timothy, êxitos do universo da canção ligeira aos quais aqui se juntam as contribuições dos brasileiros Fevers e Angela Maria.

Um pensamento

  1. Um alinhamento muito diversificado. Do rock ao mais ligeiro como é explicado pelo texto. Suzy Quatro tinha muito sucesso em Portugal e este é dos melhores temas dela. “A Gente Cresce, Cresce” de Joel Branco é um dos melhores temas do disco e marca a fase em que Carlos Paião ainda não era conhecido. Penso que a presença dos Shadows e dos The Fools seja devido ao sucesso de temas anteriores (“Tema de O Caçador” e “Psycho Chicken”, respectivamente). Muitos fãs eurovisivos talvez não saibam que “Eu Tenho Dois Amores” é uma versão do tema do lado b dos concorrentes gregos de 1977 (Pascalis, Marianna, Robert & Bessy) depois de ser adaptado na Alemanha por Costa Cordalis.

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