Luis Silveirinha

É artista Plástico e o seu trabalho desenvolve-se em torno do desenho e dos livros de artista. Mas hoje fala-nos dos discos que tem em casa.

Qual foi o primeiro disco que compraste?

O primeiro disco que comprei, não foi um mas dois em simultâneo. Comprei o “Heaven Up Here” dos Echo and Bunnymen e o “Closer” da Joy Division. Os discos encontravam-se perdidos numa loja de eletrodomésticos em Elvas, no meio de música sem interesse algum. Eu era estudante do 10º ano em Elvas e tinha tido um verão em escavações arqueológicas no Cabeço do Cubo em Campo Maior, onde arqueólogos e estudantes universitários de História, me abriam as portas e as janelas a novas linguagens musicais e literárias.

E o mais recente?

Também foram dois (parece que ando sempre nos pares), e ambos estão em repeat desde que os comprei no mesmo dia – o espanhol C. Tangana “El Madrileño” (o melhor que ouvi nestes últimos tempos), edição especial com poster e tudo, mandei vir de Espanha, assim que fiquei embevecido pelos primeiros vídeos que vi. Simplesmente genial! Uma boa enxurrada de estilos e da espuma dos nossos dias. A verter Espanha por todos os lados, mas não só. O outro foi “A Montra” dos portugueses Cassete Pirata. E este é daqueles casos em que o exterior nada tem a ver com o seu interior. Pérolas e mais pérolas lá dentro. Devia ser disco obrigatório. Quem escreve assim e produz assim, sabe o que está a fazer. Todo ele coração.

O que procuras juntar mais na tua coleção?

Na minha coleção procuro sobretudo ter aquilo que procuro de forma incessante, aquilo sobre o qual li e me despertou pelo que encerra em si, pela nova abordagem, pela vanguarda (se é que ainda se pode falar nesse termo), e pela luz que transporta. É claro que há bandas que acompanho, artistas imaculados que sigo e do qual quero ter tudo.

Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo.

Também são dois! Paula Frazer (vocalista dos Tarnation) “Leave the sad things behind” da Birdman records e os Hugo Largo no brilhante “Drum” da Opal Records (tenho em vinil comprado no ano em que foi lançado, mas quero em CD).

Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.

Steven Brown e Delphine Seyrig “De Doute et De Grace. Ouvi esse disco de forma compulsiva nos anos 90, era de uma amiga. Vivíamos na procura incessante da pérola, da novidade, do qual pudéssemos falar e guardar como um segredo. E esse trabalho fez muitas das minhas noites. Perdi-lhe o rasto, o nome, o título, tudo. Procurava incessantemente na minha cabeça e há dois anos encontrei por acaso na sua editora – Made to Measure. Esgotadíssimo! Vamos ver se o encontro a bom preço por ai. Parece que o David Boutler no “Lover’s Walk” se aproxima dele.

Limite de preço para comprares um disco… Existe?

Claro que existe! Tento comprar sempre pelo preço mais em conta e por vezes tenho sorte. Posso não comprar logo na altura mas nem sempre dou o que me é pedido logo no momento.

E é quanto?

25, 30 euros ou se for uma caixa, talvez um pouco mais.

Lojas de eleição em Portugal…

Tenho muita coisa adquirida pela via da importação na Bimotor, na Ananana, na Contraverso, na Valentim de Carvalho e numa loja no Apolo 70 no Campo Pequeno (anos 80 e 90). Eu não vivia em Lisboa mas no Alentejo e era pelo correio que comprava com maior frequência ou quando vinha a Lisboa. Hoje a Flur, a CDgo Lisboa e a Fnac são as casas de eleição.

Em viagem lá fora também visitas lojas de discos?

Muito raramente o faço. Quando vou fora obrigo-me a não ser tentado.

Quais recomendas?

Nenhuma em específica, entrem em todas! Irão descobrir sempre algo precioso.

Compras discos online?

Sim. Compro. Através da Flur e CDgo. O André Santos e o Pedro Galante são bons conselheiros! Dou umas voltas também pelos sites de algumas editoras como a 4AD ou ainda à procura do rasto de iluminuras na Discogs.

Que formatos tens representados na coleção?

Vinil, CD e Cassete.

Os artistas de quem mais discos tens?

Win Mertens, David Sylvian, Dead Can Dance, Cocteau Twins, Portishead, Cure, James Blake, Perry Blake, Lloyd Cole, Sakamoto, Harold Budd, United Future Organization, Echo and the Bunnymen, Tricky, Beck, Vicent Delerem, Red House Painters, Suzanne Vega, Joshua Redman, Cesária Évora, Anamar, Naifa, Rodrigo Leão, Deolinda, MadreDeus, Sétima, Peter Murphy, Suede, Smiths, Pulp, Chet Baker, Jay-Jay Johansson, Bjork, Massive Attack, Lcd Soudsystem, Caetano Veloso, R.E.M…

Há editoras das quais tenhas comprado discos mesmo sem conhecer os artistas?

Sim… da 4AD.

Uma capa preferida.

Poderia escolher tantas….é um crime deixar de lado todo o trabalho gráfico da 4AD mas escolhia A capa do “Luxury problems” do Andy Stott.

Um disco do qual normalmente ninguém gosta e tens como tesouro.

Diamanda Galas – Plague Mass (1991).

Como tens ainda tenhas por explorar…

Kamasi Washington. Estou fascinado com o homem.

Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.

 The Fun Boy Three (álbum). Na altura não o percebi e até o despachei. Hoje gosto bastante.

Em tempo de pandemia como cresceu a coleção?

Continuou a crescer. Aproveitei para realizar pesquisas pela net, fazer boas compras sem gastar muito. Leva tempo, há que ter paciência e ser persistente. Descobri durante esses dias, o Kamasi, reacendeu o Sakamoto com o “BTTB” e descobri Blonde Redhair.

Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respetiva história?

O “Screamadelica” dos Primal Scream. Estava em Portalegre, quando todo o movimento Madchester se desenvolve. Absorvi todas as bandas que surgiam desse estado fervoroso. Quando comprei o “Screamadelica”, considerava-o o disco da nova forma de abordar a música, era o que eu considerava como o the one. E sejamos sinceros, bastar-me-ia salvar este disco de entre todos os que tenho. Bastar-me-ia ouvir este. Estive algum tempo à espera dele. Em Portalegre havia muita gente ligada à música e muita gente com quem se podia falar de música. E foi com este que as subidas à serra de Portalegre, durante a noite, acompanhado, junto a capelas abandonadas, olhando as estrelas, dentro de um carro, onde tudo acontecia, onde a descoberta se fazia. Até o medo dos sons da serra. Foi sempre o disco que me acompanhou nessas idas. Nas idas à descoberta de um interior.

Um disco menos conhecido que recomendes…

Rachel’s – “Selenography” (1999).

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