
Depois de criada e gravada a banda sonora de “Tron” Wendy Carlos sentiu vontade de voltar a trabalhar com as possibilidades do som de uma orquestra, porém, sob a sua visão. Para tal juntou ao trabalho de composição um outro, substancialmente mais laborioso, a que chamou ‘digital syntesis’ e que correspondia a uma ideia de recriação, com eletrónicas, dos sons dos
vários instrumentos de uma orquestra.
Assim nasceu “Digital Moonscapes”, editado uma vez mais pela CBS Masterworks e com créditos de produção apenas entregues a Wendy Carlos. O álbum, cujo título completo é “Digital Moonscapes – An Evolutionary Synthesizer Tour de Force” junta duas obras da compositora, ambas com o cosmos como fonte de inspiração. “Cosmological Impressions” (em três partes) abre o alinhamento, seguindo-se a peça que dá título ao disco e que, dividida em nove segmentos, “retrata” nove grandes luas do sistema solar: Lua, Phobos e Deimos (que orbitam em torno de Marte), Ganimedes, Europa, Io e Callisto (Júpiter, conhecidas como as “luas de Galileu”), Rhea, Titan e Iapetus (Saturno).
Se bem que parte do discurso criado em volta deste álbum se debruce (e com justiça) sobre o método de trabalho, que envolveu aquilo a que Wendy Carlos chamaria LSI Orchestra (uma vez que usou circuitos de larga escala, ou seja LSI, de “large scale integration”), a música que escutamos em “Digital Moonscapes” revela uma abordagem a visões de “grande escala” que seguem e aprofundam trilhos já ensaiados em alguns momentos da banda sonora de “Tron”. Porém não espanta que muitas abordagens a este disco comecem por centrar primeiras atenções no trabalho de “síntese digital” do som dos instrumentos e a sua eventual proximidade (ou nem por isso) com os sons reais. Esse debate sobre “realismo” talvez fizesse sentido quando o álbum surgiu editado. Hoje, quase 40 anos depois, mais do que “avaliar” a precisão na recriação digital do som de uma orquestra, “Digital Moonscapes” serve não só para aferir uma nova dimensão nas visões de Wendy Carlos como compositora e serve de ponto de partida para reflexões sobre como os pioneiros imaginaram o que seria o futuro da música eletrónica. O tempo mostrou que o caminho não seria o do mimetismo mas antes o da construção de realidades próprias, o que não faz deste disco uma experiência fracassada mas, antes, um belo exercício exploratório das possibilidades que então se levantavam.