Três álbuns dos Scritti Politti acabam de surgir em novas prensagens em vinil com ‘artwork’ renovado nas capas interiores. Um dos discos agora reeditados é “Cupid & Psyche ’85” que traduziu ecos de experiências americanas em meados dos anos 80. Texto: Nuno Galopim
Nasceram em Leeds em 1978 num clima de euforia pós-punk e estrearam-se em disco poucas semanas depois com o single Skank Bloc Bologna… E durante uns anos exploraram sobretudo uma relação política e ativista com a canção. Depois de uma pausa em Gales em 1981, o vocalista Green Gartside apresentou uma série de novas maquetes, entre elas a que revelava The Sewwtest Girl, uma canção que refletia novos destinos, cedendo as luzes a um espaço de maior placidez, de melodia e cenografia mais elaboradas e uma postura vocal que depois fez história, mantendo-se a ligação ao passado pelo labor na escrita das letras. A canção, que começou por ser oferecida numa cassete aos leitores do NME, acabou lançada em single e abriu o caminho para a afirmação de uma personalidade pop eloquente que dominaria o álbum de estreia Songs To Remember (1982). Mas uma nova pausa num outro lugar chegou logo a seguir. Green deu por si no outro lado do Atlântico e, aí, a descobrir outras músicas, do funk e da soul ao emergente hip hop… Com a formação original dos Scritti Politti desmembrada, assinou um novo acordo com a Virgin Records (e com a Warner nos EUA), arregaçou as mangas e olhou para um novo caminho… pop.
Com a colaboração próxima do teclista David Gamson e do baterista (e ex-Material) Fred Maher nasceu uma nova formação dos Scritti Politti que, na companhia do veterano Arif Mardin (que tinha trabalhado com nomes de Aretha Franklin a Chaka Khan e, recentemente, produzido Tonight de David Bowie) lançaram-se em sessões de gravação nas quais contaram com uma série de outros músicos, entre os quais J.J.Jeczalik (dos Art of Noise) ou Simon Climie (uma das metades dos Climie Fisher). E assim nasceu Cupid & Psyche 85, um dos maios “perfeitos” álbuns pop dos oitentas.
O arranque das sessões foi lento. Quando Green e Gamson chegaram a Nova Iorque começaram por trabalhar uma primeira versão de Small Talk e, ainda antes de mergulhar a fundo na gravação do álbum. Por essa altura surge L is For Lover, canção que acabaria por ser gravada em 1986 por Al Jarreau. Só depois de resolvidas as questões relacionadas com a saída da Rough Trade (pela qual tinham sido editado o álbum de estreia e todos os singles do grupo salvo Skank Bloc Bologna), o trio se juntou a Arif Mardin para criar um primeiro lote de canções, entre as quais estavam Wood Beez (Pray Like Aretha Frankllin), Absolute e Hypnotize, todas elas depois editadas como singles antes mesmo de terminada a gravação do álbum. Pop e um músculo funk, sob uma produção polida, acentuavam logo ali contrastes entre a instrumentação e a voz suave de Green Gartside. Mais perto do lançamento do álbum surgia The World Girl, que juntava temperos reggae, alargando os horizontes que o restante alinhamento do álbum aprofundaria, da balada elegante ao som de A Litte Knowledge ao fulgor dançável de Perfect Way que, numa remistura, daria ao grupo um êxito considerável nos EUA. Miles Davis reagiu ao que escutou e não só começou a tocar uma versão desta canção em concertos como a acabaria por gravar no álbum Tutu. Pouco depois ele mesmo surgira como músico convidado em Oh Patti, canção que anunciaria, já em 1988, a chegada de um novo álbum dos Scritti Politti.
“Cupid & Psyche ‘85”, dos Scritti Politti, está disponível numa nova prensagem em LP em vinil com artwork renovado na capa interior. Ao mesmo tempo foram lançadas edições semelhantes de “Provision” (1988) e “Anomie & Bonhomie” (1999), este último surgindo assim pela primeira vez em vinil. As novas edições são da Rough Trade.