
Começou cedo a estudar música e, no percurso universitário, juntou um interesse pelo teatro à sua formação. Podia ter feito carreira tocando um instrumento “convencional”… Mas, além de uma visão atenta (e política) sobre o mundo ao seu redor, o que motiva Mathew Herbert a criar música é um evidente fascínio pelo som… E por isso muita da sua atividade faz-se no “mundo real”, em busca de sons que escuta, grava e depois manipula, transformando-os em matéria prima de peças que frequentemente acentuam um relacionamento preferencial com a música eletrónicas mas que abre ocasionalmente outras frentes de intervenção, que podem ir da música orquestral ao som de uma big band.
Retrato de uma figura sobretudo feito de oportunidades para o ver a trabalhar, “A Symphony of Noise”, de Enrique Sánchez Lansch (que integra a secção Indie Music do Indie Lisboa 2021), é um delicioso e esclarecedor mergulho no pensamento e processo criativo de um dos mais fascinantes músicos do nosso tempo. Vemo-lo ora a escutar o ponto de vista do ambiente de uma floresta através de uma árvore ora a captar cascas de ovos pisadas, notando depois como os sons depois abrem outras possibilidades para a criação de música. Tudo parte, de certa forma, do modo como opta por colocar o microfone e, depois, de um jogo de desafio à perceção de quem escuta… Acompanhamo-lo em vários trabalhos, da criação de uma abordagem muito pessoal ao adagio da Sinfonia Nº 10 de Mahler (da qual só este andamento foi concluído) para a série Re-Composed da Deutsche Grammphon à criação de uma ideia musical nascida de uma reflexão sobre o impacte do Brexit. E neste último caso, para fixar uma certa identidade britânica, capta sons da confeção do muito inglês fish and chips numa povoação costeira que votou massivamente a favor do “leave” (opção claramente contrária à de Herbert). Um concerto no berlinense Berghain, um workshop com assistência participativa, olhares sobre o seu estúdio e ensaios do espetáculo sobre o Brexit na bela Haus del Kulturen der Welt (em Berlim) são passos para um filme que avança sem pressa, que observa e escuta, que nos coloca perante uma obra mas também ensina a ouvir. No fim confesso que lá foi pegar novamente nos discos de Herbert para os escutar sob outros focos de atenção…