Histórias de um disco que traduziu os sinais do seu tempo

O volume 156 da série 33 1/3 conta a história de “Rio”, o álbum de 1982 dos Duran Duran, juntando à narrativa da criação das canções e sua gravação uma série de notas sobre a estratégia de comunicação que deles fez então um fenómeno global. Texto: Nuno Galopim

Uma das mais recentes edições da série de livros 33 1/3 chega em tempo de assinalar os 40 anos de vida discográfica dos Duran Duran, embora tenha por objeto um álbum que só em 2022 completará as quatro décadas de vida. A escolha é, contudo, plenamente justificável. E duvido que, sob o desafio de apontar o álbum mais marcante da discografia dos Duran Duran, alguém aponte (a não ser por motivos de gosto) outro que não este Rio, de 1982.

              Annie Zaleski, jornalista natural do Ohio, faz deste volume o que deviam ser as abordagens a discos numa série como a 33 1/3… Ou seja, fala do álbum, de quem o criou, de como foi gravado, o que acompanhou o seu lançamento, que impacte gerou e que descendências depois deixou… E digo isto porque já apanhei valentes desilusões em títulos desta série que usam o disco que mostram na capa ora para levar o autor a falar de si mesmo – e para isso o melhor era ter feito um blogue – ou para o abordar sob um ponto de vista que valoriza eventualmente mais os seus interesses pessoais do que a amplitude de leituras mais vastas que um disco pode gerar perante quem o faz e quem o escuta. Ou seja, este livro é daqueles que vale a pena ler…

              A autora começa por contextualizar a criação destas canções no quadro de uma banda que, depois de viver um primeiro (e intenso) ano de atividade discográfica, procura aqui levar os desafios mais adiante. À criação das canções e sessões de gravação acrescenta depois um dado fundamental nesta etapa de vida dos Duran Duran: os vídeos. E não só o livro nos leva ao Sri Lanka e Antígua, acompanhando ao detalhe (e sem que faltem os apontamentos vivenciais) a criação das imagens icónicas que hoje inevitavelmente associamos, sobretudo, a canções como Hungry Like The Wolf, Save a Prayer e Rio.

              O livro aproveita para refletir sobre a importância da entrada em cena da MTV e de uma noca lógica no pensamento da criação de imagens como ferramenta promocional para a música. E, sendo a autora americana, e tendo de facto Rio representado o disco que, através do sucesso no mercado dos EUA, deu um estatuto global à música dos Duran Duran, o texto explica como foi moroso e desafiante o processo que transformou uma nova banda britânica num caso de popularidade maior no lado de lá do oceano. Entre as estratégias usadas para promover Rio esteve a criação de uma série de remisturas de algumas faixas por David Kershenbaum, que vincaram a ligação destas canções pop à pista de dança, representando esse um dos vetores importantes da comunicação dos Duran Duran para o mercado americano nessa etapa. A edição do EP Carnival, também ele feito de remisturas, foi outra das expressões deste mesmo modo de pensar como levar os Duran Duran aos americanos… Mais do que em qualquer texto até aqui publicado, este livro de Annie Zaleski explica melhor do que nunca esta opção, assim como toda a estratégia posta em prática e que, no fim (ou seja, já em 1983, “o ano dos Duran Duran” como refere a autora), viu o grupo colher sucesso não apenas pelas vendas de Rio como de uma nova edição (com novo alinhamento) do álbum de estreia, lançado originalmente em 1981.

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