“Músico por conta própria” como se gosta de denominar, fala-nos hoje sobre a sua coleção de discos, e sobre a música que o move a si e ao seu mundo.

Qual foi o primeiro disco que compraste?
Se bem me lembro foi o “Rock and Soul (Part 1)” do Daryl Hall e John Oates juntamente com um Best of dos 10CC.
E o mais recente?
O álbum mais recente que comprei foi o “We Will Always Love You” dos Avalanches (em CD) e o LP duplo “Longform” do Phil Western. Sou um grande fã de ambos. E ainda não ultrapassei a morte do Phil.
O que procuras juntar na tua coleção?
Álbuns autografados. Por incrível que pareça, não tenho nenhum disco autografado. E singles de sete polegadas, algo que também não tenho.
Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo.
“Paradise” do Ron Strykert (um dos membros fundadores dos Men at Work) e Megafone 3 do João Aguardela. Apanhei a edição com os 4 volumes mas gostava de ter o CD do 3° também.
Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.
“Comet LBH6251876 A Red Planet Compilation” de Martian; “28 Gun Bad Boy” de A Guy Called Gerald; “The GreenHouse Effect” de Neutron 9000 e “Flying High” do Irresistible Force (a edição da Rising High). Infelizmente estes dois últimos sofreram do infame “disc rot” comum nos CD’s da PDO. Gostava muito que fossem novamente reeditados.
Limite de preço para comprares um disco… Existe? E é quanto?
Existe e são 60€. Apesar de já ter excedido esse valor em mais que uma ocasião. Depende do artefacto em questão.
Lojas de eleição em Portugal…
Carbono; Symbiose; Flur; JoJo’s Music… Tenho imensas boas memórias do entusiasmo que sentia a procurar e encontrar tesouros nestas lojas. Ultimamente o “crate digging” é mais digital, confesso.
Em viagem lá fora também visitas lojas de discos? Quais recomendas?
Não ando muito lá fora. Mas iria, com certeza. Ainda assim, online, conheci lojas muito boas que iria certamente visitar numa viagem ao respectivo país: a Fun Records, Rekord, Action Records, Vinyl Tap, Vinyl Exchange ou Hardwax são algumas que me lembro agora.
Compras discos online?
Oops! Sem querer já respondi a essa! Fui um utilizador ávido do Cdnow (e Amazon), Musicstack e uso imenso o Discogs não só para compra como também venda e troca de diversos formatos. É uma plataforma excelente também para encontrar obscuridades e coisas novas.
Que formatos tens mais representados na coleção?
CD’s, vinil, cassetes, VHS’s e cheguei a usar minidiscs também. Embora tenha imenso respeito pelo vinil, e reconheça as suas qualidades, confesso que o meu formato de eleição é o CD pela sua comodidade de manuseio e espectro dinâmico. Recentemente ando também a adoptar o formato digital.
Os artistas de quem mais discos tens?
Mike Oldfield; Jean-Michel Jarre; Tangerine Dream; Ozric Tentacles; Depeche Mode; Duran Duran; R.E.M.; Future Sound of London; Aphex Twin; Plaid; Beatles; Deep Forest; Phil Western; Erasure. Todos referências ao longo da minha juventude.
Há editoras das quais tenhas comprado discos mesmo sem conhecer os artistas?
Imensas!! Podia comprar “às cegas” qualquer disco da Peacefrog, UR/Submerge, Trax, Warp, R&S/Apollo, IRS, Eye-Q/Harthouse/Recycle or Die, Rephlex, Planet-Mu, Reinforced, Metalheadz, Ninja Tune, Mo’Wax ou Soma de que muito dificilmente iria não gostar.

Uma capa preferida.
Uma? Impossível escolher uma. Adoro ficar a olhar para um artwork bonito ao longo da escuta. Para mim faz parte de toda a experiência que é o “deep listening”. Dito isto… artwork de Brian Burrows, Bozzy, Storm Thorgerson, Muskadelic, F. Reichold, Roger Dean, Buggy G.Riphead, Michel Granger, Terry Illot, Trevor Key, Abdul Haqq, Stan Shingler, Dario Campanile são nomes cujo trabalho é fabuloso na sua maioria ou mesmo totalidade. Ainda assim, e além destes nomes, gosto muito do artwork do “Chameleon” de Children of Dub; “Flavour of the Weak” dos Front Line Assembly; “Solaris” de Photek; “Time Tourist” dos B12; “Midlight E.P.” do português Deep In; “Boheme” dos Deep Forest; “The Dragon Experience” do cEvin Key & Ken Hiwatt; “Construction Time Again” dos Depeche Mode….a lista podia continuar.
Um disco do qual normalmente ninguém gosta e tens como tesouro.
Vou dizer quatro… “Reveal” dos R.E.M. É tido como um dos álbuns mais fracos do seu repertório. E é o meu favorito. Embora reconheça que possa, efetivamente, não ser o seu melhor, tem um travo agridoce que me lembra muito o “Surf’s Up” dos Beach Boys, como se se adivinhasse que poucos meses depois, viesse o 11 de Setembro e, com ele, o início de toda uma distopia progressiva que viria a dominar os anos seguintes até hoje. “Two Hearts” dos Men at Work, que foi completamente trucidado pela crítica e continua a ser imensamente esquecido. O seu tom bem mais zangado e electrónico não agradou a quase ninguém. Ainda assim, tem algumas das melhores canções que a década de 80 ofereceu (nomeadamente “Man with Two Hearts”,”Maria”,”Hard Luck Story” ou “Snakes and Ladders”. De louvar também o esforço do Greg Ham no trabalho de produtor. Imensas bandas dos anos 80 continuaram nos anos 90 com verdadeiras obras de arte (Human League, Alphaville, Duran Duran,Heaven 17, Erasure, ABC..), e “East of the Sun,West of the Moon” dos A-Ha, é uma pérola ainda hoje menosprezada, mais introspectiva que os antecessores, mas muito mais madura. Teria sido curioso ver onde esta linha os teria levado, caso não tivessem feito a enorme pausa posterior ao “Memorial Beach”. E finalmente “From the Double Gone Chapel” dos Two Lone Swordsmen, um passeio bem mais sujo e orgânico do que as obras-primas anteriores, mas que nem por isso deixa de valer a pena escutar nos dias certos.
Um nome que ainda tenhas por explorar…
Definitivamente Frank Zappa (o catálogo dele é imenso, variado, e nem sempre de fácil ingestão); mais funk/soul da década de 70 (existem bandas que são autênticas máquinas-prodígio nas quais crate-diggers como o Liam Howlett ou os Daft Punk mergulham para procurar samples) e definitivamente mais Basil Kirchin (ando obcecado com o “Abstractions of the Industrial North” há umas semanas para cá, disco que recomendo fortemente).
Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.
“Sextant” do Herbie Hancock; “Bitches Brew” do Miles Davis; “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” do David Bowie; “Creating Patterns” dos 4 Hero e “A Saucerful of Secrets” dos Pink Floyd. O teu gosto musical inevitavelmente amadurece com a idade, e apercebeste da grandeza de certos discos só depois de compreenderes o seu contexto temporal, espacial e artístico. Creio que foi o caso com qualquer um dos discos. No caso do “Creating Patterns”, creio que, devido ao facto de o “Paralell Universe” ter tido um impacto tão grande na minha vida, fiquei desiludido pelo Marc e o Dego parecerem ter perdido o interesse por completo na tensão sónica do seu passado. Levei uns dez anos até aprender a apreciar novamente a bonita arte que os novos álbuns dos 4Hero continham.
Como cresceu a coleção em tempo de pandemia?
Em tempo de pandemia, curiosamente, pus as coisas em retrospectiva e abracei mais o digital. Antes da internet, o acesso a certos discos (sobretudo os mais antigos) era mais limitado, estando apenas disponível o que havia em lojas locais. Então o que sucedia era que sempre que descobria um artista, acabava por começar pelos álbuns mais recentes, e posteriormente, quando comecei a ter acesso ao mercado online, comprava os mais antigos (geralmente os que queria realmente). Isso levou a que tivesse discografias completas de vários artistas, mesmo estando apenas interessado num álbum ou dois. Então a pandemia serviu para fazer um downsize da coleção ao estritamente essencial (e mais um bocadinho, pronto), e para, no decorrer do processo, descobrir coisas novas.
Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respetiva história?
Não é bem uma história pessoal, mas um dos discos que mais dificuldade tive em encontrar foi de um projecto de um dos membros da banda Code, Graham Cupples, designado por Mortal. Não que fosse particularmente raro, mas o título “Deco” (corria o ano de 2005) levava sempre, em pesquisas online, ao futebolista. Felizmente descobri o Discogs pouco depois.
Um disco menos conhecido que recomendes…
“Beam Error” dos Floatpoint. Uma das melhores fatias de musica electrónica dos anos 90. Recomendo também todos os álbuns onde o Phil Western e o Dan Handrabur estão envolvidos, e os seus próprios projectos a solo.
