Ryuichi Sakamoto “Async” (2017)

Após um período de silêncio o regresso aos discos de Ryuichi Sakamoto fez-se em 2017 com “Async”. Depois músicos como Andy Stott, Fennesz ou Arca apresentaram olhares seus sobre estas mesmas composições… Texto: Nuno Galopim

Ao cabo de oito anos de silêncio, habitados na verdade por uma batalha clínica contra um tumor na garganta, Ryuichi Sakamoto regressou em 2017 aos discos com Async uma obra-prima que propõe sugestões que habitam as periferias… do silêncio. Figura de marcante presença na história da música nos últimos quarenta anos, Sakamoto foi um dos pioneiros da aventura pop eletrónica quando militava na Yellow Magic Orchestra. Ao lado de Iggy Pop ou Thomas Dolby experimentou outros flirts com a pop. Mas foi com David Sylvian que aceitou fazer viagens que começaram perto da pop e rumaram para além das fronteiras dos géneros, num conjunto de ensaios que, somados com os trabalhos para cinema (e Feliz Natal Mr Lawrence, de Nagisa Oshima, não podia ter sido melhor experiência por esses dias de novos desafios) e os discos que foi editando em nome próprio (Beauty, de 1990 é pérola maior a ter em conta na busca de uma síntese das ideias… pop), o projetaram para outros horizontes. É verdade que em experiências mais recentes, ao lado de figuras como Christian Fennez ou Alva Noto, voltou a mostrar como esse fulgor de explorador não escapara ao seu mapa de desafios. Mas foi em Async, que assinou a peça que mais bem acrescenta a certeza de ter encontrado novos rumos ao seu destino.

Há algo de curioso em comum entre este disco – que podemos descrever como “ambient” – e um outro que, em meados dos anos 70, levou Brian Eno ao encontro desta mesma ideia: o silêncio em tempo de convalescença. Numa cama de hospital Eno escutou o que antes nunca ouvira, descobrindo nas periferias do quase nada o tudo que depois resolveu explorar. Também Async surge depois de um tempo habitado por silêncios. E entre o piano e os acontecimentos manipulados, é de silêncios que vivem os instantes que fazem a filigrana de acontecimentos que Sakamoto desenha neste seu magnífico disco de regresso.

Agora, meses volvidos sobre a edição de Async, há um segundo capítulo a juntar à sua história. Trata-se de Async – Remodels, um álbum de “remisturas” e “revisitações” que, através de intervenções de nomes como os de Andy Stott, Johánn Johansson, Arca, Oneothrix Point Never ou velhos colaboradores como Alva Noto ou Fennesz, mergulham mais ainda, e por outros olhares, sobre este mesmo universo. Há nestas abordagens tanto de ensaio e ousadia como de respeito por um veterano que os mais novos estetas aqui chamados assim aproveitam para homenagear “metendo a mão na massa”. Aos poucos estas “remisturas” foram lançadas online, revelando novas dimensões possíveis entre os espaços que Sakamoto lançou entre as composições de Async. Mais tarde acabaram reunidas num dulplo LP.

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