
Depois de experimentada e fixada uma linguagem própria, percurso que ganhou forma ao longo dos anos 70, quer através das bandas sonoras criadas para os documentários de Fréderic Rossif ou de construções pensadas para o formato de álbum, como se escutou em Heaven & Hell (1975), Albedo 0.39 (1976) ou Spiral (1977), Vangelis alargou o espectro das suas visões a viagens conceituais, ora tendo Paris (e em concreto a zona onde “moram” o Centro Pompidou e o IRCAM) ora a China como tela, ideias respetivamente materializadas em Beaubourg (1978) e China (1979). A chegada aos anos 80 fez-se ora em novas colaborações para o cinema (de Momentos de Glória a Blade Runner – Perigo Iminente), ora numa colaboração regular com Jon Anderson (num ciclo de álbuns vocais), surgindo pouco depois novos mergulhos conceituais, o primeiro dos quais levando-o a procurar o prazer do detalhe numa das suas obras de mais evidente recorte “ambiental”.
Olhando para o solo e o vasto mundo de acontecimentos vivido entre os seus pequenos habitantes e habitat, Soil Festivities alarga os vocabulários de Vangelis a outras possibilidades, mais do que nunca aceitando dialogar com as formas do mínimalismo.
Peça dividida em vários andamentos, Soil Festivities alia uma visão cénica (com sons de chuva, por exemplo, logo no segmento inicial) a uma narrativa que procura arrumar sinais de uma viagem microscópica ao festim de vida que habita o solo. Ora mais contemplativo, ora sugerindo melodias, ora acentuando pontualmente o fulgor dos acontecimentos e até mesmo abrindo festas de maior liberdade nas formas na sequência final, Soil Festivities, juntamente com Invisible Connections (editado pela Deutsche Grammophon em 1986) mostrou por aqueles dias que a música de Vangelis não seguia necessariamente sempre as rotas de comunicação mais fácil e imediata. Rotas que em tudo foram sempre enriquecendo a sua linguagem e a obra que assim ia nascendo sempre aliada à ideia de (boa) surpresa.