
A notícia chegou de forma inesperada. Aos 60 anos desaparecia Andrew Fletcher, figurava talvez criativamente te discreta mas na verdade não menos importante entre os Depeche Mode. Antigo colega de escola de Vince Clarke, com quem começou por formar os No Romance in China (onde era baixista) e, depois os Composition of Sound, estava assim a bordo dos Depeche Mode desde o momento em que o nome surgiu. Atravessou toda a obra em disco do grupo, assim como as muitas digressões.
Foi, dos cinco músicos que, desde 1981, passaram pela formação dos Depeche Mode, o único que nunca assinou uma composição. E chegou até a brincar com o seu estatuto numa frase que nos deu a escutar no filme “101” de D.A. Pennebaker, descrevendo primeiro o papel de cada um, acabando por dizer “I bum around” (que é um pouco como referir “eu ando por aí”). Mas se o seu papel na escrita das canções ou na moldagem dos sons não se pode comparar ao dos demais parceiros da banda, “Fletch” (como era carinhosamente referido) era não só um espírito capaz de desempenhar o papel de fiel da balança, tendo a dada altura assumido também a condução do trabalho de bastidores na gestão de vários assuntos internos das várias operações em volta do trabalho do grupo.
De resto esta capacidade demonstrada na organização dos trabalhos poderá ter sido o motor que o levou à criação de uma etiqueta, a Toast Hawai, pela qual editaria discos das Client. Um trabalho complementer como DJ também se juntou ao seu currículo.
Discreto mas presente tanto em estúdio como em palco, Andrew Fletcher era também o melhor contador de histórias dos Depeche Mode, facto que se constata nos detalhes das entrevistas que foi concedendo. Nos últimos tempos coube frequentemente a si um papel de porta voz oficial do grupo na hora de comunicar novidades, dos discos aos concertos.
Conheci-o pessoalmente no backstage de um concerto em Dortmund durante a Devotional Tour, em 1993. Jantámos na tenda do catering, depois partilhámos um jogo de matraquilhos (com mais elementos do grupo) e ele mesmo me convidou a juntar à after party que depois houve no hotel (o mesmo onde estava instalado). Voltámo-nos a encontrar em entrevistas ligadas ao lançamento de discos posteriores. Era de facto um bom conversador. E uma presença capaz de unir as partes no coração dos Depeche Mode. Fica por isso uma questão… Com Vince Clarke e Alan Wilder há muito afastados, resistirão os Depeche Mode a uma eventual vida a dois com Dave Gahan e Martin L Gore?… São os pilares criativos do grupo, é certo. Mas haverá uma vida para os Depeche Mode como duo?… É questão a ter resposta, mais dia menos dia… – N.G.
É mesmo, Nuno.
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