Um disco para dar voz (e piano) às canções de Philip Glass

Originalmente estreado em 1997, o ciclo Songs of Milarepa, conhece finalmente uma primeira gravação na voz de Martin Achrainer, acompanhado pelo piano de Maki Namekawa. Texto: Nuno Galopim

A música vocal ocupa há muito um espaço de protagonismo na obra de Philip Glass. E se na ópera talvez tenha criado obras maiores de referência no relacionamento da sua música com o canto – com a trilogia das óperas-retrato claramente já inscrita no cânone – na verdade o seu trabalho de escrita de música vocal vai muito para além desses palcos. De canções originalmente criadas para vozes como as de Mick Jagger (conhecem o Streets of Berlin que Ute Lemper canta em Punishing Kiss… pois a versão original é do vocalista dos Rolling Stones no filme Bent), Natalie Merchant ou Pierce Turner a arranjos para Marisa Monte ou remisturas para os S’Express, o trabalho de Philip Glass no domínio da canção é vasto, tendo como momentos maiores os ciclos de canções Songs From Liquid Days e Book of Longing, este último criado sobre poemas de Leonard Cohen. Se as canções para os “dias líquidos” procuravam caminhos de diálogo com formas e figuras da música popular (entre elas David Byrne, Suzanne Vega, Paul Simon ou Laurie Anderson), já o ciclo criado sobre as palavras de Cohen procurou juntar também a dimensão do canto lírico. E foi precisamente sob a mesma lógica que em 1997 surgiu o ciclo Songs of Milarepa, que agora finalmente conhece uma primeira gravação na voz de Martin Achrainer, acompanhado pelo piano de Maki Namekawa. 

Apresentado numa versão original para orquestra de câmara em Perugia em 1997, o ciclo ganhou agora forma num diálogo para voz e piano no qual ganha protagonismo uma voz que cantou já em produções de várias óperas de Glass, tendo interpretado a figura do protagonista em Kepler. O próprio Martin Achrainer tinha já cantado este ciclo na sua versão orquestral antes de, em tempo de confinamento, ter trabalhado esta leitura reduzida para piano, à qual se junta em disco Maki Namekawa. A dimensão mística deste conjunto de três canções é inteligentemente complementada em disco com um outro pequeno ciclo, Three Songs For Baritone and Piano, que recupera elementos de Hydrogen Jukebox (sob palavras de Allen Ginsberg) e uma canção entretanto nascida de uma ária da ópera Monsters of Grace.

“Philip Glass – Songs”, de Martin Achrainer e Maki Namekawa está disponível em CD e nas plataformas digitais numa edição da Orange Mountain Music.

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