Queen “Hot Space” (1982)

Editado há 40 anos, o álbum “Hot Space” correspondeu a um momento invulgar (e desafiante) na discografia dos Queen. Texto: Nuno Galopim

Há discos que fixam momentos atípicos nas histórias dos artistas que os criaram. E por vezes, mesmo podendo gerar episódios de sucesso, levam tempo a acabar reconhecidos sobretudo pelos seguidores mais próximos do registo canónico dos autores que, naquele momento, resolveram seguir a velha máxima dos Monty Python… e agora para algo completamente diferente. Foi assim, por exemplo, com Their Satanic Majestie’s Request (1967) dos Rolling Stones… Ou com Hot Space, o álbum com travo funk e disco que os Queen editaram em 1982. Curiosamente são os meus discos preferidos de ambos os grupos…

Na verdade o funk, até mesmo o disco e os próprios sintetizadores não eram absoluta novidade na música dos Queen. E basta lembrar Another One Bites The Dust e alguns outros instantes do álbum The Game, assim como o mais recente Flash Gordon… Conta-se que John Deacon terá sido aqui um importante catalisador de ideias, tendo Freddie Mercury aderido às sugestões (que não terão sido coisa unânime, todavia). Mas convenhamos que aqui trouxeram as ideias certas na hora certa. 

Under Pressure, parceria com Bowie criada ainda antes das sessões para o álbum, abriu de certa forma um caminho (e deu-lhes um êxito maior). Depois, com Arif Mardin a assegurar um papel de protagonismo na equipa de produção, a gravação de novas canções mostrou uns Queen como nunca antes ninguém os tinha escutado, e com episódio de arrojo maior em Body Language, canção que quase esquece a presença das guitarras para fazer dos jogos entre voz, baixo, percussão e sintetizadores, o corpo de um momento esteticamente desafiante que, perdoem-me os fãs da face mais rock dos Queen, corresponde a um dos singles mais inspirados de toda a sua discografia.

Em discos posteriores os Queen voltariam aqui e ali a reencontrar a sua relação mais primordial com as guitarras, mas Hot Space ajudou a imprimir também ao percurso do grupo nos anos 80 uma identidade pop que lhes valeria uma nova mão-cheia de êxitos com expressão global. Agora, 40 anos depois (o álbum saiu em maio de 1982) vale a pena regressar a Hot Space e saborear um episódio de ensaio de algo diferente. Não seria este o Achtung Baby dos Queen. Mas sabe a coisa desafiante e diferente. E talvez com potencialidade para cativar quem não seja um admirador mais “clássico” da sua obra (como foi o meu caso). 

2 pensamentos

  1. Posso estar enganado. Mas acho que esta posta irá gerar tráfego extra no Gira Discos. Vamos ver. Se assim for, digamos apenas que já tenho as pipocas preparadas. 🙂

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  2. Cool Cat é ainda hoje provavelmente a minha canção favorita da banda. E de facto Hot Space é excelente como um todo. Curiosamente, há momentos posteriores, nomeadamente em The Works, que o uso de sintetizadores me pareceu algo limitado. Aqui é justamente o contrário.

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