A que velocidade giram os discos? E porquê?

A história da música gravada em disco é também uma narrativa de grande, pequena e média velocidade. Das primeiras propostas sem norma à fixação de formatos, esta aventura mede-se em rotações por minuto. Texto: Nuno Galopim

Nascido ainda em finais do século XIX, o disco, uma invenção de Emile Berliner (criador da Gramophone Company e também da Deutsche Grammophon, ainda antes de 1900), suplantou definitivamente o suporte que inicialmente lhe fez concorrência, o cilindro, na alvorada da segunda década do século XX. Este momento é ainda assinalado com a decisão de fixar de uma vez por todas a velocidade de rotação dos discos já que inicialmente houve discos (e máquinas) a funcionar a várias velocidades, das 60 às 130 rotações por minuto (rpm). Em 1894 a própria Gramophone Company apresentava discos com um diâmetro de sete polegadas a 70 rpm. Em 1912, porém, um paradigma novo entrou em cena. E determinou, até à alvorada da década de 50, uma opção preferencial para muitos editores e melómanos (aqueles que começavam a optar por ter cada vez maios discos em casa, contrariando hábitos das décadas anteriores que tinham conhecido na rádio a principal fonte de divulgação e distribuição de música para os lares de quem a quisesse escutar).

78 RPM

Foi em 1912 que a Grammophone Company fixou a velocidade de rotação dos seus discos nas 78 rpm, decisão que acabaria por se tornar não dó preferencial como até mesmo um paradigma. A escolha da velocidade de rotação teve implicações também na fixação do diâmetro dos discos, facto que decorreu da necessidade de usar o tempo disponível em cada face. Apesar de lançado em 1903 pela RCA Victor, o formato de 12 polegadas acabaria preterido em favor de discos relativamente mais pequenos, com 10 polegadas de diâmetro, permitindo a cada face apresentar uma gravação de cerca de três minutos. O facto de a história da canção popular se fazer essencialmente com canções de três minutos (com variações maiores mais adiante) decorre destas características: o diâmetro dos discos e a velocidade de rotação. A necessidade de editar obras mais extensas levou ao surgimento das “caixas”, surgindo assim edições com mais do que um disco para assegurar a totalidade da reprodução da gravação de uma obra (sobretudo na área da música clássica e também da música criada para o teatro ou o cinema). O sucesso de novos formatos (o LP e o single) ditaram o fim da era do disco de 78 rpm, com a produção a esmorecer na Europa e América do Norte ainda na segunda metade dos anos 50, com alguns países noutras geografias a manter ativa a edição de novos títulos ainda durante a década de 60. Os novos gira discos (sobretudo os formatos portáteis que ganharam visibilidade nos anos 60, já só apresentavam um comutador para as 33 1/3 e 45 rotações).

33 1/3 RPM 

Os primeiros protótipos de um disco de longa duração (o “long playing”, ou seja, o LP) datam ainda dos anos 20, tendo em 1931 a RCA Victor apresentado um formato de 12 polegadas que rodava a 33 1/3 rpm, assegurando mais de dez minutos de gravação em cada face. Coube contudo à Columbia a aposta na comercialização de um formato com diâmetro e velocidade de rotação idênticas, mas com sulcos mais finos, permitindo perto de 20 minutos em casa lado. Outra diferença maior do novo formato tem a ver com o próprio material em que é feito o disco. E no lugar do shellac quebradiço (e incapaz de reduzir o ruído) dos discos de 78 rpm, o PVC permitiu ao novo LP uma outra qualidade na reprodução do som. Daí até à invenção do conceito (e máquinas) da alta fidelidade, foi um pulinho. Apresentado comercialmente em 1948, o LP a 33 1/3 rpm surgiu inicialmente em dois formatos, um deles com diâmetro de dez polegadas (semelhante aos discos de 78 rpm) e um outro com 12 polegadas, que acabaria por prevalecer e criar a era do “álbum” como importante novo paradigma para a criação musical, abrindo igualmente espaço a uma importante contribuição  do design gráfico para a história da música gravada (com a criação de novas e cada vez mais surpreendentes capas ilustradas). O LP de dez polegadas teria contudo ainda alguma força em alguns mercados, um deles o francês, onde definiu a matriz de edição de álbuns ainda durante a década de 60. Ocasionalmente surgiram EP (de “extended play”, em discos sobretudo de sete polegadas, mas com mais dor que uma canção por face) a 33 1/3 rotações. No início dos anos 80 era frequente haver máxi-singles prensados a 33 1/3 rpm nos EUA. 

45 RPM

Meses depois do LP a 33 1/3 rpm apresentado pela Columbia, a RCA Victor lançou, já em março de 1949, o disco de sete polegadas a 45 rpm. Nascia o single que, tal como o recentemente lançado LP, era prensado em PVC, valorizando (juntamente com a velocidade de rotação) a qualidade de reprodução face ao que se escutava nos discos de 78 rotações. Os singles surgiram inicialmente em edições com capas que não eram mais do que saquetas com grafismo associado à respetiva editora, cabendo à etiqueta do disco a identificação do artista e da canção. Com o tempo, seguindo aqui a norma entretanto criada pelo LP, surgiram capas ilustradas. O formato de sete polegadas a 45 rpm conheceu depois variações com a entrada em cena do EP (ver acima), que teve particular impacte entre nós nos anos 60. Ainda com as 45 rotações na velocidade de reprodução, mas com 12 polegadas de diâmetro surgiria mais tarde o máxi-single, apontado sobretudo para os DJ e pistas de dança, mas com importante expressão comercial também a partir dos anos 80. Ocasionalmente surgiram LP a 45 rotações em situações em que a duração dos registos permite a sua reprodução a esta velocidade (um caso é o histórico Victorialand dos Cocteau Twins). 

16 2/3 RPM

Nos anos 50 chegou a haver brevemente um espaço de edição para LP que rodavam a 16 rpm. Eram sobretudo discos de spoken word e em alguns casos chegou a haver lançamentos de discos com nove polegadas de diâmetro. Este formato não sobreviveu, mas podemos ainda encontrar, em antiquários, sistemas de som dos anos 50 e 60 em que o comutador de velocidade inclui uma posição para a velocidade de 16 2/3 rpm.

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