Editado em 1989, o nono álbum de estúdio de Liza Minelli nasceu de uma intensa e frutuosa colaboração com os Pet Shop Boys. “Results” representa uma das mais consequentes parcerias pop alguma vez criadas entre músicos de gerações distintas. Texto: Nuno Galopim

O desafio (criativo) de cruzar gerações diferentes de vozes pop no espaço de um mesmo disco ganhou evidente fôlego na década de 80 quando a história da música pop(ular) permitiu finalmente a coexistência no espaço e tempo de carreiras nascidas em épocas diferentes. Figuras emergentes ou recentemente aclamadas chamaram assim aos seus discos ou lançaram propostas de colaboração a vozes de… outros tempos. Surgiram assim parcerias entre Marc Almond e Gene Pitney, entre Paul McCartney e Michael Jackson, entre Tina Turner e Bryan Adams, George Michael e Aretha Franklin, entre outros. A coisa não era novidade absoluta, claro. E, por exemplo, ainda nos anos 70 David Bowie já tinha partilhado um momento (de Natal) com Bing Crosby. Mas os oitentas ativaram uma série de encontros, que os tempos seguintes mantiveram em cena, juntando Sinatra a Bono, Tammy Wynette aos KLF ou Shirley Bassey aos Propellerheads, e por aí adiante, numa história que mais recentemente acolheu parcerias entre os Animal Collective e Vashty Bunyan ou de Lady Gaga com Tony Benett. Aos Pet Shop Boys (PSB), embaixadores maiores da cultura pop, coube, nos oitentas, a criação de duas histórias maiores dentro deste mesmo universo. Uma delas nasceu de uma colaboração com Dusty Springfield em What Have I Done To Deserve This, acabando depois por gerar um álbum que reativou a visibilidade da cantora. Mais surpreendente ainda foi uma outra colaboração, nascida de um acaso e que acabou por motivar a criação de uma das melhores de todas estas parcerias e encontros, juntando a dupla Tennant / Lowe a Liza Minelli.
Reza a mitologia que tudo começou num escritório da editora com a qual a cantora havia recentemente assinado um novo acordo. Liza Minelli procurava colaboradores para um novo disco e, assim se conta, o manager dos Pet Shop Boys estava por perto… Palavra puxa palavra, sugestão levanta nova sugestão, e Liza Minelli acabou por escutar Rent, manifestando uma evidente admiração pela canção… Esse seria assim o ponto de partida para um esforço de colaboração que levou os Pet Shop Boys a assinar uma mão cheia de novas canções para a voz da cantora, juntando ainda ao rol de possibilidades uma série de versões, entre as quais novas leituras para o então bem recente Twist In My Sobriety de Tanita Tikaram, uma revistarão do então algo esquecido Love Pains (um mimo de sabor ‘disco’ de 1979) de Yvonne Elliman ou o mais clássico Losing My Mind, de Stephen Sondheim, originalmente criado para o musical Folies (de 1971), mas agora revisto segundo o livro de estilo PSB. É claro que o cardápio de versões (que correspondem a cinco das dez canções do alinhamento) não esqueceu o próprio songbook dos Pet Shop Boys, incluindo o belíssimo Rent numa versão mais lenta e com novo arranjo orquestral que os próprios Pet Shop Boys interpretariam em 2006 num concerto para a BBC que ficou fixado no álbum ao vivo Concrete. A segunda incursão pela discografia dos próprios Pet Shop Boys fez-se ao som do não menos épico Tonight Is Forever (do álbum Please, de 1986). No sentido inverso, uma nova abordagem à versão de Losing My Mind e uma maquete de So Sorry I Said (criada para esta colaboração) surgiriam depois em discos dos Pet Shop Boys.
Além da evidente adaptação (que nem uma luva) da voz de Liza Minelli a todas estas canções, da música aos jogos de significados, o disco traduziu claramente os sinais dos tempos do som que os Pet Shop Boys então levavam aos seus discos, estando o disco de Liza Minelli em evidente sintonia com a pop eletrónica e a dimensão orquestral de canções que então surgiram nos álbuns Actually (1987) e Introspective (1988). A presença de colaboradores em discos recentes dos Pet Shop Boys, do produtor Julian Mendelssohn ao arranjador Angelo Badalamenti, sublinhou essas afinidades. Anne Dudley (dos Art Of Noise) inicia aqui uma colaboração com Neil Tennant e Chris Lowe que depois se manifestará em Very (1992). Nota final para o título do disco de Liza Minelli, Results, que segue em tudo a matriz PSB, valorizando o poder (estético e de comunicação) do uso de uma só palavra.