Editada em 1984 a compilação “People are People” representou uma estatégia de comunicação para os mercados dos EUA e Canadá quando, finalmente, um primeiro single do grupo cativou atenções no outro lado do Atlântico. Texto: Nuno Galopim

Foi longa e difícil a caminhada dos Depeche Mode rumo ao sucesso no outro lado do Atlântico. Foram necessários seis álbuns e uma extensa digressão (que ficaria depois retratada no álbum ao vivo 101 e no documentário com o mesmo título então filmado pelo veterano D.A. Pennebaker) para que tal acontecesse. E de facto, na primeira metade dos anos 80, ao mesmo tempo que iam conquistando atenções na Europa, as suas canções e discos iam passando longe das atenções tanto nos EUA como Canadá, territórios então encarados como fulcrais para concretizar eventuais ambições de uma carreira de dimensão global. Coube finalmente ao single People are People o quebrar do gelo, gerando de resto o melhor resultado de sempre dos Depeche Mode na tabela de singres americana. O tempo acabaria por transformá-los num caso de sucesso não necessariamente traduzido em episódios de impacte maior na lista dos singles mais vendidos. Mas coube ao impacto de People Are People opapel de gatilho para uma série de novas tentativas de apresentação da banda ao público norte-americano, a primeira das quais tendo ganho forma em 1984 numa compilação expressamente criada para os EUA e Canadá à qual, sem surpresa, foi dado como título o nome da canção que então dava que falar: People are People.
Não era de todo novidade a criação de alinhamentos alternativos ou até mesmo discos completamente distintos dos originais em edições criadas para os mercados norte-americanos. As discografias dos Beatles e Rolling Stones têm em si exemplos notáveis desta política editorial. Com os Depeche Mode isso aconteceu duas vezes. Uma delas em 1985, com Catching Up With Depeche Mode (versão alternativa da compilação The Singles 81-85 editada na Europa). A primeira, um ano antes, precisamente com este People Are People.
Dado o fraco impacte do álbum Construction Time Again nos EUA, a compilação então criada para tentar mudar a relação dos americanos com o grupo recolhia algumas canções desse disco de 1983, entre as quais Pipeline, Told You So e os singles Love In Itself e Everything Counts, este último na sua versão longa. O alinhamento junta ainda os lados A e B do single (também de 1983) Get The Balance Right, o lado B do single Everything Counts (Work Hard) recupera ainda Leave In Silence do álbum de 1982 e, do mais recente Some Great Reward, já de 1984, chama apenas People Are People. Uma capa com uma foto do grupo (algo que nunca tinha acontecido até então na discografia dos Depeche Mode) sublinhava o apelo pop industrial da canção que dava o título a este disco que acabaria por somar vendas de maior dimensão do que as até ali registadas nos EUA e Canadá. O álbum teria ainda uma edição no Japão.