Pioneira na história da ficção científica televisiva, a série alemã que entre nós foi exibida como “A Nave Orion” gerou, logo em 1966, a edição de uma magnífica banda sonora de Peter Thomas que sugere visões de distância no tempo e a vertigem do desconhecido. Texto: Nuno Galopim

Estamos no ano três mil. A Terra não está mais dividida em países e as instituições que governam todo o planeta estão alojadas em bases subaquáticas. E entre essas estruturas está um dispositivo de segurança que confia a vários veículos espaciais, entre os quais a Nave Orion VIII, o papel de vigiar o espaço em volta da Terra, naturalmente assegurando a sua defesa… Esta utopia é o ponto de partida para as histórias que, em 1966, surgiram nos sete episódios de uma série que merece ser reconhecida pelo seu pioneirismo na ficção científica televisiva. Antecendendo a própria série original de Star Trek (contemporânea na produção, mas com difusão ligeiramente posterior), Raumpatrouille – Die phantastischen Abenteuer des Raumschiffes Orion, mais frequentemente referida como Raumpatrouille (ou Raumpatrouille Orion) e que entre nós teve mais tarde (já nos anos 70) exibição como A Nave Orion, gerou entretanto um fenómeno de culto que só não será mais expressivo talvez pelo facto de a série, produzida pela ARD ter origem na antiga RFA (Alemanha Ocidental), sendo (naturalmente) falada em alemão. E entre as reuniões de admiradores da série há algo que nunca pode faltar: as coreografias (que ocupavam frequentemente planos secundários, mas inesquecíveis, no bar da estação subaquática). E quando há coreografias… há música. E, neste caso, um belo disco.
Editada logo em 1966 pela Phillips, a música criada por Peter Thomas para os sete episódios da série, interpretada pela sua Peter Thomas Sound Orchester, é uma peça que pode transcender o próprio nicho de admiradores de Raumpatrouille. Em parte marcada por atmosferas lounge, pontuais ecos de dinâmicas rock e uma evidente admiração pelo jazz, pensada para explorar os timbres da orquestra (dominada pelos metais) de Peter Thomas e atenta às necessidades de tramas que visavam sobretudo a contemplação do desconhecido, a música que aqui escutamos não segue a lógica mais “hollywoodesca” da época muitas vezes sobretudo assente em arranjos que valorizavam os instrumentos de cordas. Na verdade a banda sonora junta, depois no disco, uma sucessão de paisagens intrigantes e inesperadas, seja pela ocasional inclusão de electrónicas, seja em momentos capazes de sugerir estranheza (o que a distância temporal da acção pedia) como o que escutamos na “canção” Jupiter’s Pop Music ou o cruzamento de tempos (no sentido de épocas) que ouvimos em Sky Life. O tempo fez contudo de outra faixa do álbum um momento icónico. Trata-se dos compassos de abertura de Bolero on the Moon Rocks, que seria usado como sample em This Is Hardcore, dos Pulp. Pérolas a (re)descobrir… Tanto o disco como a série…