Duran Duran, “Astronaut”

Depois de anos a fio sem dois dos três “Taylor” originais, os Duran Duran reuniram a formação original numa operação que os levou a palcos de todo o mundo e gerou um álbum que assinalou esse reencontro da sua formação histórica, agora reeditado. Texto: Nuno Galopim

Mais ainda do que em 1986, quando o “toque” para reunir para gravar Notorious – e do qual resultariam as baixas de Roger e Andy Taylor – o par de anos que acompanhou a discreta vida pública de Pop Trash (editado em 2000, ao que se seguiu uma nova digressão) deixou os Duran Duran à beira do abismo, com um possível ponto final pela sua frente. E ao possível final, o resiliente teclista Nick Rhodes – o único elemento do grupo ininterruptamente presente desde a sua formação – e o vocalista Simon Le Bon terão afastado o guitarrista Warren Cuccurullo, encetando um processo de contactos com antigos elementos que, em 2001, lhes permitiu anunciar que a formação “clássica” do grupo (a que vivera os dias de maior sucesso entre 1981 e 85) estava reunida e a trabalhar num novo álbum. As sessões começaram no sul de França mas encontrar uma nova editora, que lhes concedesse a desejada liberdade artística e garantisse um esforço promocional adequado, não estava a ser tarefa fácil. E, mesmo já com uma série de novos temas em carteira, optaram antes por partir para a estrada, num esforço de demonstração de um patamar de popularidade que era ainda seu, nem que capitalizando o efeito da nostalgia que, por essa altura, assistia a tantas outras reuniões do género.

Se bem que essencialmente centrados num alinhamento greatest hits, os concertos foram, aqui e ali, apresentando algumas novas canções. Ao mesmo tempo uma maquete andou entre escritórios de editoras e promotoras, acabando mesmo por chegar ilegalmente à Internet, revelando algumas das novas canções, entre elas Virus, que acabaria incluída como extra numa edição japonesa e (Reach Up For The) Sunrise, que acabaria meses depois por ser o primeiro single do novo álbum.

O grupo acabou por encontrar editora na Sony Music, concluindo as gravações do novo disco na companhia dos produtores Don Gilmore, Dallas Austin e de Nile Rodgers, velho parceiro dos tempos de The Reflex, The Wild Boys e Notorious. Uma remistura de Sunrise, por Justin Nervin, surgiu na banda sonora de Queer Eye For The Straight Guy mesmo antes de o single chegar aos escaparates, acentuando o efeito de aperitivo da canção que, de facto, se revelaria no maior êxito do grupo desde os tempos do Wedding Album, onze anos antes. Apresentada ao vivo e com uma maquete divulgada numa estação de rádio em Los Angeles, What Happens Tomorrow seria escolhida como segundo single, obtendo ainda algum impacte significativo, embora sem o efeito maior que Sunrise alcançara.

Editado em outubro de 2004 com o título Astronaut, o álbum revela contudo um sentido de dispersão que impediu o efeito de coesão como todo que discos anteriores tinham procurado, mostrando o alinhamento uma seleção de canções mais inspiradas e outras nem por isso. Os escorregões mais inconsequentes escutam-se nas canções talhadas segundo uma faceta de tempero funk, que tão bons resultados tinha revelado em Notorious, que agora se manifestava evidente em Want You More!, Bedroom Toys ou Taste The Summer, com apenas algum impacte (graças à exposição em palco) para Nice, tema escolhido como terceiro single, mas apenas com lançamento digital (e que, convenhamos, não chegava aos calcanhares dos outros dois antes extraídos do alinhamento do álbum). Igualmente sem viço maior é o breve piscar de olho aos caminhos seguidos pela banda nos noventas em One of These Days. Ainda sem chama particular, mas na linha herdada de alguma música que haviam feito antes, sobretudo valorizando o trabalho de teclas e na construção da secção rítmica, temas como Finest Hour ou Point Of No Return perdem-se entre as 12 canções. O melhor, além dos dois singles, emerge nos temas mais pacatos e cenicamente mais elaborados que apresentam entre Chains e Still Breathing. E vale a pena referir apenas o tema-título do álbum, uma canção de forma e sonoridade invulgares, que representa talvez o mais desafiante (e interessante) de todos os momentos de um álbum que traduziu mais a força do episódio emocional do encontro da formação “clássica” do que propriamente um momento musicalmente importante na carreira do grupo.

A digressão que se seguiu ao lançamento do disco – e que devolveu os Duran Duran a um palco português pela primeira vez em 22 anos – vincou o momento de sucesso reencontrado, que se manifestou mesmo assim em vendas acima das obtidas por muitos dos discos lançados pelo grupo após a cisão desta mesma formação. Mas a verdade é que, mesmo tendo a formação do grupo encontrado uma nova surpresa (e afastamento) pouco depois, o melhor do que o reencontro de 2001 veio a permitir estava ainda por acontecer.

A nova reedição, apenas em formato de CD, não junta quaisquer temas adicionais ao alinhamento original do álbum. Oportunidade despeciçada para, não só, juntar aqui os lados B (originais) dos dois singles, assim como canções como Virus ou Beautiful Colors, nascidas nestas mesmas sessões.

“Astronaut” dos Duran Duran, está novamente disponível em CD, num lançamento da BMG.

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