60 anos de música ao serviço de James Bond no cinema

Na passagem dos 60 anos sobre a estreia de “Dr. No” a plataforma Amazon Prime apresenta um documentário sobre a história da música criada para os filmes de 007 e o registo de um concerto recentemente apresentado no Royal Albert Hall. Texto: Nuno Galopim

Ao mesmo tempo que se celebrava a passagem de 60 sobre a estreia discográfica dos Beatles com o single Love Me Do, o mundo assinalava outra efeméride ocorrida no mesmo dia 5 de outubro de 1962: a estreia do primeiro filme com o agente secreto 007. Será um equívoco chamar à ocasião o 60º aniversário de James Bond já que, na verdade, a personagem criada por Ian Fleming vai a caminho dos 70, com essas tantas velas a soprar a 13 de abril de 2023, no aniversário da publicação de Casino Royale, o primeiro livro que apresenta o espião que trabalhou ao serviço de Sua Majestade. Porém o impacte de Dr. No e dos filmes que se seguiram, e que deram já ao agente secreto seis vidas – tantas quantos os atores que lhe vestiram a pele – quase sequestrou para o mundo do cinema a existência do próprio James Bond. Tanto que não faltam por aí eventos associados ao 60º aniversário de Bond. Enfim, o cinema fala aqui mais alto do que os livros… E é no quadro destas várias comemorações – as dos 60 anos de James Bond no cinema – que surgem dois documentários dedicados à música dos filmes de 007 na plataforma Amazon Prime, na verdade sendo um deles o filme de um concerto comemorativo desta data.

Comecemos pelo melhor. Pelo documentário The Sound of 007. E é de facto única e marcante a história musical de James Bond no cinema. Começa com o convite a Monty Norman para criar a banda sonora de Dr. No, o que o levou à Jamaica, onde decorria a rodagem, em busca de inspiração e ideias. Entra logo depois em cena John Barry, chamado para ajudar a dar forma a algumas arestas, sendo seu o arranjo que acabaria por dar vida ao “tema” que desde então associamos aos filmes de James Bond. A aventura continua em 1963 já com Barry a assumir a escrita da música para From Russia With Love, chamando Matt Munro para cantar a canção-título que ali surgia nos créditos finais. Na verdade só a partir do terceiro filme – Goldfinger, de 1964 – se encontra o modelo paradigmático que associa a canção aos créditos iniciais do filme (com exceção apenas em On Her Majesty’s Secret Service), contando o documentário – entre palavras de arquivo de John Barry, uma entrevista com Michael Caine que por aqueles dias passava uma temporada em sua casa e por memórias de Shirley Bassey – como nasceu aquela que se tornaria a mais emblemática das ‘Bond songs’, ainda hoje tomada como referência maior. 

O documentário escuta não apenas as canções mas também as partituras orquestrais, notando como ao modelo criado por John Barry se juntaram depois novas ideias e variações, com exemplos concretos nas colaborações com George Martin, Marvin Hamlish, David Arnold ou, mais recentemente, Hans Zimmer. Billie Eilish e o seu irmão têm um protagonismo evidente na narrativa – já que são os mais recentes autores de uma ‘Bond song’ – mas partilham aqui o ecrã com nomes como os de Lulu, Sheena Easton, John Taylor e Simon Le Bon (dos Duran Duran), Tina Turner, Jack White ou Sam Smith, nomes que associamos a episódios da história das canções ao serviço do agente 007. A estas novas entrevistas (pelas quais surgem ainda nomes como Daniel Craig ou Rami Malek) junta-se depois material de arquivo que evoca nomes como os de Tom Jones, Nancy Sinatra, Louis Armstrong ou Paul McCartney, entre outros, nas respetivas aventuras com James Bond.

A este (recomendável) documentário junta-se a gravação do concerto recentemente realizado no Royal Albert Hall pelo qual passaram, acompanhadas pela Royal Philharmonic Orchestra, várias canções desta mesma longa história de James Bond no cinema, ora nas vozes de quem as cantou na origem – como Shirley Bassey (ao som de Diamonds Are Forever e Goldfinger), Lulu e os Garbage – ora por figuras de novas gerações – de Jamie Cullum e Celeste a John Grant. Coisa com sabor a “poucochinho”, o concerto brilha perante as vozes com história real neste universo, mas fica muito aquém quando chama outros intérpretes para ali cantar as canções de 007. Fica, mesmo assim, o documento.

“The Sound of 007 – Documentary”, de Mat Whitecross e “The Sound of 007 – Live From The Royal Albert Hall”, de Matthew Amos, estão disponíveis na plataforma Amazon Prime

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