Wendy Carlos “Beauty in the Beast” (1986)

Uma viagem pensada para fotografar um eclipse acabou por ser o ponto de partida para um álbum que hoje em dia é um dos títulos de Wendy Carlos menos fáceis de encontrar. Tem por título “Beauty in the Beast” e teve edição original em 1986. Texto: Nuno Galopim

Uma viagem a Bali em 1983, pensada para poder fotografar um eclipse, levou Wendy Carlos a descobrir com maior proximidade algumas formas e sons da música local, notando em particular um encantamento pelo gamelão. E foi de um estudo sobre as características das escalas e dos sistemas de afinação ali usados que encontrou ideias que a conduziram a um novo disco. Editado em 1986 pela Audion Recordings, Beauty in The Beast é talvez um dos álbuns hoje em dia mais raros de encontrar no corpo da sua discografia. Mesmo assim foi citado na época pela sua autora como representando, juntamente com Digital Moonscapes, um dos seus discos mais importantes.

Estamos aqui já bem longe das abordagens, criadas com o histórico Moog, a peças de grandes autores de música clássica. De facto, e tal como em Digital Moonscapes, o que encontramos aqui não é apenas um feito de uma visão e de um talento na interpretação e recriação de composições de outros, mas antes uma manifestação conjunta de uma ideia de criação sonora e um trabalho de composição, vincando como a invenção musical na então emergente era digital podia viver de um diálogo entre estas características.

Ecos da música do Bali são evidentes ao longo de uma sucessão de composições instrumentais nas quais a voz (da própria Wendy Carlos) emerge pontualmente, embora processada por um vocoder. Recorrendo sobretudo a sintetizadores digitais Sinergy, a música aqui desenha cenários e sugere uma trama narrativa, seguindo caminhos de liberdade formal que se destacam do que eram, então, os rumos da música electrónica quer na pop quer em novos espaços da música de dança. Tal como era já habitual na discografia de Wendy Carlos (e em edições de clássica e jazz) a contracapa do LP apresentava uma série de textos, um deles sendo uma explicação, faixa a faixa, onde a própria Wendy Carlos descreve os quadros que criou através da música, notando alguns detalhes do processo criativo de alguns.

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