A-ha “True North”

Formados em 1982, os A-ha acabam de editar “True North”, 11º álbum de estúdio que apresenta algumas das sua melhores canções desde os tempos em que, na segunda metade dos anos 80, estavam na mira das atenções da cultura pop global. Texto: Nuno Galopim

Depois de uma primeira vida que os levou, quase incógnitos, de Oslo até Londres e, após o sucesso colossal de Take on Me, ao estrelato mundial, os A-ha colocaram o que parecia um ponto final na sua carreira quando saíram de cena em 1994, após um momento menor assinado recentemente com Memorial Beach. É claro que o mundo já havia escutado grandes nomes da música norueguesa, contudo nos domínios da música clássica e do jazz. A aventura dos A-ha levou o mundo pop a descobrir a Noruega (que, apesar do instante de algum sucesso dos Fra Lippo Lippi e do reconhecimento indie dos Bel Canto ainda nos oitentas, na verdade só alargou definitivamente o leque de internacionalizações de nomes e carreiras depois da viragem do século, naquele mítico 2001 que levou a outras geografias as músicas dos Kings Of Convenience, Röyksopp e Sondre Lerche). De certa maneira aos A-ha coube sempre o trilhar de um caminho próprio, nos trilhos de uma linguagem pop de apelo mainstream, com todo um trabalho de construção iconografia a ajudar a comunicação das canções. Ao tom mais efusivo das canções dos álbuns Hunting High and Low (1985) e Scoundrel Days (1986) sucedeu-se uma etapa com evidente alargamento de protagonismo de uma música mais melancólica e elaborada em Stay On These Roads (1987), ideia que teve continuidade direta no seguinte East of The Sun West of The Moon, discos que procuravam assegurar a sobrevivência do grupo depois dos encantamentos gerados na etapa em que se assumiam como teen stars, disputando protagonismo com nomes como os Duran Duran ou Wham!, apesar de seguirem caminhos bem distintos na sua música, estatuto que ia já distante quando chegaram as canções do mais discreto Memorial Beach. Houve um momento de boa comunicação (e boas canções) por alturas do seu regresso à atividade no ano 2000, com Minor Earth Major Sky, mas, apesar dos episódios seguintes, com álbuns e digressões espaçadas no tempo, sem esquecer um novo ponto final e mais um renascimento, na verdade nunca os A-ha retomaram nem estatuto de outrora nem conseguiram reencontrar novos patamares de reconhecimento (popular e crítico), representando contudo a sua mais recente digressão (que nos visitou no Rock In Rio, numa etapa ainda de convalescença do vocalista) e o novo disco True North, os seus melhores episódios desde a etapa de maiores sucessos que corresponde à segunda metade da década de 80.

Com uma coleção de novas canções bem mais interessante do que as que foram surgindo nos discos quase invisíveis que o grupo lançou nos últimos 20 anos (ou seja, após Lifelines, de 2002), True North (que é o 11º álbum de estúdio do grupo) na verdade não encerra em si grandes mudanças na forma de trabalhar face a títulos como Analogue (2005), Foot of The Mountain (2009) ou Cast in Steel (2015). O alinhamento está criativamente dividido de forma equitativa entre Paul (outrora Pal) Waaktaar-Savoy e Magne Furuholmen, sendo a mais distintiva das características do disco a presença de uma orquestra (a Arctic Philharmonic) que molda os arranjos das canções segundo trilhos que se revelam herdeiros da alma menos festiva fixada na obra do grupo desde canções como os tema-tílulo dos álbuns de 1985 e 1987. Na verdade, o domínio evidente de climas tranquilos, entre baladas orquestrais e momentos mid tempo, acaba por dominar o grosso do alinhamento, que abre as suas mais estimulantes frestas de luz quando um fulgor pop emerge em canções como Forest For The Trees, Bluest of Blue ou Make Me Understand, este último correspondendo ao único momento de todo o disco que parece querer encontrar pontes com a etapa que o grupo viveu por alturas dos seus dos primeiros álbuns. Apresentado pelo elegante I’m In e com novo single (sem aparente vontade de desenhar contrastes) em You Have What It Takes, True North encerra em si marcas de solidez de veterania, sublinha a demarcação de uma identidade mas corre o risco de, mantendo esta mesma política de comunicação baladeira, deixar uma vez mais invisível alguns dos melhores rebuçadinhos pop que os A-ha criaram depois da viragem do século. Não estamos de todo frente a um disco capaz de disputar protagonismo com títulos que o grupo lançou nos anos 80 (ao invés do que tem sucedido com os mais recentes álbuns dos Duran Duran). Mas quem em tempos seguia os A-ha terá aqui o seu disco mais recomendável desde esses dias.

“True North” dos A-ha, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição Swinglong/RCA

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