Os singles de David Sylvian (parte 1)

Um a um vão surgir no Gira Discos as edições discográficas nos formatos de single e EP por David Sylvian ao longo do seu percurso a solo (o que implica também um número significativo de colaborações). Texto: Nuno Galopim

Iniciamos hoje um novo percurso através de uma discografia, focando as edições em formato de single e EP. No centro das atenções está David Sylvian e, com ele, muitos momentos de colaboração. A seu tempo visitaremos a sos obra nos Japan, mas neste percurso vamos destacar o seu percurso a solo. Começamos assim por recuar a 1982 e àquele que foi então o seu primeiro disco editado a solo, num tempo em que o músico integrava ainda os Japan.

“Bamboo Houses / Bamboo Music” (single), 1982 

com Ryuichi Sakamoto 

Não era a primeira vez que David Sylvian trabalhava com Ryuichi Sakamoto. Do bom acolhimento dos japoneses à música dos Japan, logo em finais dos anos 70, surgiu uma vivência e partilha de ideias que cedo colocaram o vocalista dos Japan em contacto com a figura central da Yellow Magic Orchestra, banda fundamental da primeira geração pop electrónica e nome de proa da música japonesa de então. Colaboraram pela primeira vez em Taking Islands in Africa, um dos temas do álbum Gentleman Take Polaroids (1980) dos Japan. Mas em 1982 editaram juntos um primeiro single, ao qual chamaram ainda a colaboração de Steve Jansen (também dos Japan). Bamboo Houses / Bamboo Music lança ideias. Explora as potencialidades das suas visões instrumentais (na verdade representando o passo adiante do que os Japan haviam experimentado no álbum de 1981 Tin Drum) e aprofunda a demanda de personalidade na atitude vocal de Sylvian. Os temas foram co-produzidos pelos dois protagonistas e Steve Nye e tiveram edição nos formatos de 7 e 12 polegadas, pela Virgin Records.

“Forbidden Colours” (single), 1983 

com Ryuichi Sakamoto

O segundo single a solo de David Sylvian nasceu novamente de uma colaboração com o japonês Ryuichi Sakamoto. A este último o realizador Nagisa Oshima havia encomendado a banda sonora para o filme Feliz Natal Mr Lawrence, que contava com o próprio Sakamoto no elenco (no qual encontrávamos também um outro músico: David Bowie). Com música de Sakamoto e letra de Sylvian, Forbidden Colours (título encontrado no romance de Mishima que, no Brasil, teve já tradução para português como Cores Proibidas) é a canção que escutamos com os créditos finais do filme. Parte de uma melodia que Sakamoto decompõe e utiliza depois em outros instantes da banda sonora, mas que aqui surge em forma definitiva no corpo de uma canção delicada que cruza ecos de geografia japonesa com um lirismo que vinca o carácter dramático da sequência final do filme. O single apresenta a canção na mesma versão que escutamos na banda sonora e junta no lado B The Seed and The Sower (e, na versão máxi, o tema-extra Last Regrets). Forbidden Colours deu a David Sylvian a sua melhor performance extra-Japan na tabela de singles no Reino Unido, atingindo o número 16 e mantendo-se em lista durante 8 semanas.

“Red Guitar” (single), 1984

Com o anuncio da separação oficial dos Japan, que chegou em 1983, David Sylvian colocou o projeto de criação e gravação de um primeiro álbum em nome próprio na sua agenda de prioridades. O disco, que editaria no Verão de 1984 com o título Brilliant Trees, teve como cartão de visita um single que chamou atenção para o patamar no qual o músico agora se colocava. Sentem-se heranças do carácter desafiante da estrutura rítmica explorada na reta final do trabalho dos Japan, mas há desde logo um clima de inesperado (e discreto) aroma jazzístico (sobretudo definido ao piano) que caracteriza a canção. Red Guitar não repetiu os resultados comerciais que os singles dos Japan posteriores a Ghosts alcançaram, mas lançou de voz firme e segura uma nova etapa na sua carreira. O teledisco que acompanhou esta canção representou uma das primeiras experiências no vídeo do fotógrafo Anton Corbijn. No lado B escuta-se uma nova versão de Forbidden Colors. O single teve edições nos formatos de sete e 12 polegadas.

“The Ink In The Well” (single), 1984

O segundo single extraído do alinhamento de Brilliant Trees chamou atenção, após Red Guitar, para evidentes sinais de um progressivo afastamento face ao rumo que o cantor tomara nos dias dos Japan (dos quais Ghosts, do álbum de 1981 Tin Drum se afirmou como o melhor indicador de trilhos futuros). Sem o mais evidente perfil jazzístico de Red Guitar, mas abrindo espaço para um solo de fliscorne, por Kenny Wheeler, The Ink In The Well foi uma aposta pelos antípodas dos espaços que a pop então respirava sob os focos das atenções mainstream. Mesmo assim (e não repetindo o nº 17 alcançado por Red Guitar poucos meses antes), The Ink In The Well atingiu o 35º lugar na tabela britânica de singles. Foi contudo a última presença de Sylvian no Top 40 até I Surrender, em 1999. No lado B o single apresentava o instrumental Weathered Wall. Uma vez mais houve edições nos formatos de sete e 12 polegadas.

“Pulling Punches” (single), 1984

Um terceiro e último single extraído do alinhamento de Brilliant Trees evidenciou as mais diretas heranças de um interesse pela exploração dos ritmos (e dos métodos da dança) que, nos dias dos Japan, Sylvian havia abordado em temas como Methods of Dance, Swing ou Visions Of ChinaPulling Punches é uma canção de fôlego funk e representa o momento mais anguloso e ritmicamente vibrante do alinhamento do álbum de 1984, contando a dada altura com a visível presença de Jon Hassell. No lado B foi incluído Backwaters. Comercialmente foi o mais discreto dos episódios ligados a Brilliant Trees, não ultrapassando o número 56 na tabela de singles do Reino Unido. Pulling Punches teve edições nos formatos de sete e 12 polegadas.

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