Editado em 1996 o álbum “Red Hot + Rio” juntou contribuições de George Michael, Sting, Caetano Veloso, Marisa Monte, Milton Nascimento, Everything But The Girl ou Ryuichi Sakamoto, entre outros, em mais uma jornada de luta contra o VIH. Texto: Nuno Galopim

John Carlin esteve numa ação de luta contra a sida em Nova Iorque, em 1989. E foi dos acontecimentos que presenciou nesse dia, somando o conhecimento do que tinha sido quase uma década de tentativas de combate a uma doença que, então, ditava sentenças de morte, que surgiu a ideia de criar uma organização (à qual chamou Red Hot Organization) que, através da música, poderia desenvolver ações não apenas de recolha de fundos mas também de comunicação para assim lutar contra o vírus VIH. Um ano depois surgia Red Hot + Blue, um primeiro disco que lançou a ideia de chamar grandes músicas, de diferentes geografias (do espaço e dos sons) para, sob um tema comum, criar um álbum consistente e coerente. Seguiram-se discos focados nos universos da música de dança, da música country, do indie, de cruzamentos do jazz com o hip hop… Até que, em 1986, finalmente ganhou forma um álbum que traduzia uma das paixões maiores do fundador da organização: a música brasileira.
Primeiro de três discos que a Red Hot dedicou à música do Brasil, o álbum Red Hot + Rio contou com curadoria partilhada entre John Carlin e o brasileiro Beco Dranoff e convocou não só grandes nomes da música brasileira – como Marisa Monte, Astrud Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento ou Chico Science – como envolveu figuras maiores do panorama internacional, apresentando contribuições de George Michael, Ryuichi Sakamoto, os Everything But The Girl, Crystal Waters, PM Dawn, Sting, Cesária Évora ou os Stereolab. Cazuza, cuja vida fora ceifada pela doença em 1990, é recuperado numa gravação de Preciso Dizer Que Te Amo, partilhada aqui com Bebel Gilberto. São particularmente marcantes neste disco as versões de clássicos da bossa nova como Corcovado, pelos Everything But The Girl, ou Desafinado, este juntando George Michael com Astrud Gilberto.
O booklet junta à ficha técnica e informação sobre a própria Red Hot Organization uma explicação da demanda lançada no plano musical de um disco que, como ali se explica, procurou mostrar como espaços importantes da música popular brasileira, nomeadamente a bossa nova e o tropicalismo, dialogaram com espaços e figuras da música internacional. Ainda em 1996, como disco companheiro a Red Hot + Rio foi lançada a compilação com gravações de arquivo Nova Bossa: Red Hot + Verve. Em 2011 surgiria depois Red Hot + Rio 2, com propostas bem diferentes das que aqui se escutavam.