Uma compilação acaba de reunir num LP duplo 20 criações do francês Daniel Vangarde, o autor de “D.I.S.C.O” dos Ottawan e “Aie a Mwana” das Bananarama, e que trabalhou com figuras de vulto como Dalida, Claude François, Joe Dassin ou Petula Clark. Texto: Nuno Galopim

O atual gosto pela escavação das memórias dos mais diversos arquivos de gravações tem devolvido ao nosso conhecimento todo um mundo de pérolas cujas obras em parte tinham já conhecido os efeitos da erosão que o tempo sobre tudo pode lançar. Do francês Daniel Vangarde (de apelido real Bangalter) é natural que nos possamos lembrar de êxitos como D.I.S.C.O. dos Ottawan, Aie a Mwana, canção em swahili que conheceu a sua mais famosa versão pelas Bananarama ou Cuba, dos Gibson Brothers. Escreveu também para nomes maiores da canção em língua francesa como Claude François, Joe Dassin ou Dalida, mas também trabalhou com Petula Clark. Mas muito maior do que esta ponta do icebergue é todo um vasto corpo de trabalho, por vezes animado com vitaminas de desafio futurista, que animou este compositor francês que, a dada altura, chegou também a editar em nome próprio. Pois vale-nos agora o suculento alinhamento da compilação The Vaults of Zagora Records Mastermind (1974-1984) para termos uma visão mais ampla do seu trabalho e, com justiça, juntar o seu nome à história das expressões que o disco sound foi criando em solo europeu na segunda metade da década de 70.
Juntamente com Jean Kluger, que conheceu em 1967 e que inicialmente trabalhou consigo como publisher, Daniel Vangarde desenhou um percurso editorial desde finais dos anos 60 mas que conheceu um importante momento de viragem quando, em 1975, lançou não apenas o seu único álbum em nome próprio (e ao qual chamou simplesmente Daniel Vangarde) mas também uma editora, a Zagora Records, que não só editou esse disco como dos muitos que a sua escrita gerou nos anos seguintes. A solo ou em conjunto com Jean Kluger, Daniel Vangarde cedo descobriu um potencial pop no disco sound e, como de resto foi comum a outros conterrâneos seus contemporâneos, frequentemente ensaiou visões com travo sci-fi (que acabaram contidas como space disco). É esse o percurso agora visitado nas 20 faixas reunidas em The Vaults of Zagora Records Mastermind (1974-1984) – apenas 18 na edição em CD – em cujo alinhamento não faltam nomes com os quais Daniel Vangarde partilhou episódios de sucesso maior como os Ottawan, Gibson Brothers ou La Compagnie Créole (embora aqui sem os “clássicos” celebrizados) e não esquece gravações do próprio protagonista, que há muito deixou a música e hoje vive numa pequena povoação do litoral brasileiro. Ah, caso tenham notado alguma familiaridade ao ler o nome real de Daniel Vangarde, vale a pena acrescentar que é o pai de Thomas Bangalter, dos Daft Punk.
“The Vaults of Zagora Records Mastermind (1974-1984)” é uma compilação que envolve vários artistas e está disponível em 2LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Zagora/Because Music