Uma a uma estão a surgir no Gira Discos as edições discográficas nos formatos de single e EP por David Sylvian ao longo do seu percurso a solo (o que implica também um número significativo de colaborações). Texto: Nuno Galopim
Continuamos aqui um percurso através de uma discografia, focando as edições em formato de single e EP. No centro das atenções está David Sylvian e, com ele, muitos momentos de colaboração. A seu tempo visitaremos a sos obra nos Japan, mas neste percurso vamos destacar o seu percurso a solo.

“Words With the Shaman” (EP), 1985
Terminado o ciclo centrado no álbum de estreia a solo Brilliant Trees (que gerou três singles) David Sylvian apresentou em 1985 um EP instrumental originalmente apenas disponível no formato de máxi-single. Trabalho de parceria na composição com Jon Hassell (um dos colaboradores no álbum de 1984), aceitando ainda uma participação nos créditos de Steve Jansen, Words With The Shaman envolveu também a presença em estúdio de Holger Czukay. O disco apresenta três peças interligadas: Ancient Evening, Incantation e Awakening – Song From The Treetops. Words With The Shaman representa um caminho de descobertas que lançariam trilhos futuros na sua obra. A música é essencialmente contemplativa, aceita mecanismos repetitivos como base da estrutura, mas liberta alguns instrumentos que desenham linhas que, delicadamente, definem ambientes, depois cores e formas. Há samples vocais, ruídos que juntam outras almas à textura de uma música que traduz interesses por outras músicas para lá das fronteiras da pop. Estas três composições surgiram no alinhamento do álbum instrumental Alchemy, an Index of Possibilities.

“Taking The Veil” (single), 1986
Dois anos após Brilliant Trees e um depois de Alchemy: An Index os Possibilities, um novo álbum, Gone To Earth, entra em cena em num formato “dois em um” (ou seja, juntando sob uma capa comum um disco vocal e um outro instrumental). A Servir de cartão de visita para o novo álbum o single Taking The Veil na verdade revelava um pouco dessas duas faces. O lado A, com o tema que lhe dá título, propunha uma canção de toada melancólica e com linhas jazzy desenhadas pela guitarra de Robert Fripp. No lado B, o tema Answered Prayers vincava o tom ambiental dos novos instrumentais, a versão 12” juntando ainda A Bird of Prey Vanishes Into a Deep Blue Cloudless Sky. Atingindo o nº 53 na tabela de singles britânica, Taking The Veil não conheceu já o efeito de proximidade da popularidade dos Japan que ainda se tinha manifestado sobre os singles extraídos do álbum de 1984.

“Silver Moon” (single), 1986
A escolha de um segundo single a extrair do alinhamento de Gone To Earth apontou a Silver Moon, talvez a canção de recorte mais “clássico” do alinhamento do álbum. É um tema de (e como o nome sugere) alma lunar, melancólica, mas feita de suave luz. Canção longa, com espaço para alguma intervenção instrumental (que uma vez mais sugere uma curiosidade pelas periferias do jazz), Silver Moon surgiu acompanhada nas versões em sete e doze polegadas do single com os temas Gone To Earth e Silver Moon Over Sleeping Steeples, ambos do alinhamento do álbum. O single foi o primeiro disco a solo de Sylvian a falhar qualquer classificação na tabela de singles no Reino Unido.

“Buoy” (single), 1987
com Mick Karn
Antigos colegas de escola e, durante anos, companheiros de trabalho nos Japan, Mick Karn e David Sylvian viveram os primeiros anos após a dissolução da banda em projetos separados. O primeiro reencontro deu-se por alturas da gravação de Dreams Of Reason Produce Monsters, o segundo álbum a solo de Karn, que contou com a presença de Sylvian em duas canções, uma delas tendo inclusivamente sido editada no formato de single. Buoy, creditado como Mick Karn featuring David Sylvian, atingiu o número 63 na tabela de singles no Reino Unido em 1987.

“Let The Happiness In” (single), 1987
Os primeiros sinais do que nos esperava em Secrets of The Beehive, o terceiro álbum vocal de David Sylvian, chegaram com Let The Happiness In, uma canção em tudo diferente das que o músico editara até então no formato de single, aproximando-se de certa forma da noção de progressão ambiental que em tempos definira o mítico Ghosts, dos Japan. Quase despida de uma arquitetura rítmica, já que as percussões (na versão de estúdio) só entram em cena a meio da canção, Let The Happiness In é dos melhores exemplos de procura de um espaço instrumental para as características vocais de Sylvian e é ainda hoje uma das suas melhores canções de sempre. O single juntava, no lado B o inédito Blue of Noon. Let The Happiness In teve breve passagem (de apenas uma semana) pela tabela de singles britânica, onde atingiu o número 66.