Mais uma paragem nesta viagem pelos títulos mais marcantes que nos chegaram ao longo de 2022. As escolhas hoje destacam os livros, os filmes e as séries de televisão, naturalmente em grande parte dos casos com a música em destaque. Textos: Nuno Galopim
As escolhas, tal como no ano passado, surgem divididas em listas separadas. Primeiro os livros sobre música, depois os filmes e as séries igualmente focadas nestes universos e, ainda, alguns exemplos de ficções (para o grande e para o pequeno ecrã).
LIVROS SOBRE MÚSICA

Surgido neste 2022 que assinalou os 80 anos de vida de Caetano Veloso, o livro Outras Palavras: Seis Vezes Caetano, de Tom Cardoso, procura, maios do que apresentar uma biografia, olhar antes o pensamento (e as palavras e atitudes) de uma das vozes mais importantes da história da música brasileira, juntando assim uma coleção de memórias e referências que ajudam a construir um perfil de um artista, das suas ideias, no fundo, de uma identidade. O livro organiza a sua narrativa em seis grandes capítulos, cada qual olhando para Caetano Veloso segundo um ponto de vista. Tom Cardoso destaca assim retratos sobre o santo-amarense (focando aqui as raízes da sua personalidade e formação como indivíduo), o polémico (em parte analisando um percurso de vários choques com a imprensa e a crítica no Brasil), o líder (sobretudo do movimento tropicalista), o vanguardista (escutando um incansável apetite pelo desafio das formas e das ideias), o amante (descendo aqui aos patamares da sua vida particular) e o político (num panorama bem completo sobre o modo como, dos dias da ditadura até às mais recentes eleições, se posicionou no mapa político brasileiro).
Este é apenas um entre dez títulos sobre vários universos da música que o ano de 2022 nos deu a ler. Aqui fica uma lista mais completa.
“Adventures in Modern Recording: From ABC to ZTT”, de Trevor Horn
“Black Rio nos anos 70: a grande África Soul”, de André Diniz
“Eu Estive Lá”, org. Henrique Amaro
“Folk Music: A Bob Dylan Biography in Seven Songs”, de Greil Marcus
“História da música popular brasileira: Sem preconceitos (Vol. 2): De fins dos explosivos anos 1970 ao início dos anos 2020”, de Rodrigo Faour
“Listening to the Music the Machines Make – Inventing Electronic Pop 1978 to 1983: Inventing Electronic Pop 1978-1983”, de Richard Evans
“Objeto Não Identificado – Caetano Veloso 80 anos”, org. Pedro Duarte
“Outras Palavras: Seis Vezes Caetano”, de Tom Cardoso
“The Philosophy of Modern Song”, de Bob Dylan
“Total Wired – The Rise and Fall of the Music Press”, de Paul Gorman

FILMES SOBRE MÚSICA
“Tudo é transitório. Será que isso importa? Será que isso me incomoda?”… As palavras são de David Bowie. E a teatraliade da sua voz acentua os jogos de sentidos que convocam, sobretudo quando integradas num fluxo de imagens, pensamentos e memórias que, mais do que procurar contar a sua história, nos transportam antes ao âmago das suas grandes demandas. Demandas pelos caminhos, rumos, alcance e significados da sua arte, pela (boa) gestão do tempo, pelo sentido da vida. É isso Moonage Daydream, o documentário de Brett Morgen – o mesmo que em tempos mergulhou nas entranhas das memórias de Kurt Cobain (este, por sua vez, admirador de Bowie). Uma experiência a pedir, como o próprio Bowie sugeria, que não se perca tempo, já que esteve em cartaz apenas uma semana, e em formato IMAX. Todo o filme segue os caminhos de quem trabalha sobre found footage. Ou seja, este é um documentário todo ele feito apenas de material de arquivo, que o realizador encontrou, fatiou e rearranjou para ordenar a história (e as ideias) que connosco quer partilhar. Moonage Daydream não é uma biografia. É um retrato. E um retrato de autor. Que junta pedaços de filmes como Metrópolis, O Sétimo Selo, A Laranja Mecânica ou 2001 Odisseia no Espaço como tijolos que acrescentam ideias e referências a esta construção. Vale ainda a pena sublinhar a dimensão do trabalho de recriação música, contando com o próprio antigo colaborador Tony Visconti a remostrar e reinventar canções e temas instrumentais, encontrar do neles novos de pontos de vista que acentuam a vertigem deste olhar sobre Bowie. Imperdível!
Este é apenas um de dez títulos sobre música que o ano de 2022 nos deu a ler tanto na sala de cinema como nas plataformas de streaming. Aqui fica uma lista mais completa.
“Beethoven’s Ninth – Symphony For The World”, de Christian Berger (Netflix)
“Cesária Évora”, de Ana Sofia Fonseca (estreia em sala)
“Da Weasel – Agora e Para Sempre”, de Catarina Peixoto (RTP Play)
“Get Back – The Rooftop Performance”, de Peter Jackson (estreia em sala)
“Duran Duran: A Hollywood High”, de Ridoyanul Hoq e Gavin Elder (estreia em sala)
“Mahmood”, de Giorgio Testi (Amazon Prime)
“Moonage Daydream”, de Brett Morgen (estreia em sala)
“Kendrick Lamar – The Big Steppers Tour Live From Paris”, de Mike Carson e Dave Free (Amazon Prime)
“The Sound of 007 – Documentary”, de Mat Whitecross (Amazon Prime)
“This Much I Know To Be True”, de Andrew Dominik (estreia em sala)

SÉRIES SOBRE MÚSICA
Perante um momento de explosão na oferta de documentários sobre figuras e espaços da música – confirmando-se aqui um terreno de exposição de trunfos entre as diversas plataformas de streaming – há que procurar ideias que se destaquem. E uma delas, não só pelo ponto de vista da abordagem, mas também pelo cuidado como recolhe elementos de arquivo, arruma uma narrativa sem a esgotar na lógica de um ordenamento cronológico dos factos e encontra modos de colocar em diálogo novas entrevistas com memórias de palavras de outros tempos, é a que encontramos em My Life as a Rolling Stone, uma minissérie de quatro episódios. A ideia maior por detrás desta minissérie nem é coisa revolucionária, mas resulta numa forma de facto distinta e muito “emotiva” de contar a história do grupo. Ao criar cada um dos quatro episódios com o foco individual nos quatro elementos da formação que o grupo conheceu depois de 1993 (ou seja após a saída de Bill Wyman) a narrativa segue sobretudo o caminho que se define pelas diferenças de personalidade de cada um dos músicos. Segue-se assim o modelo agora tão em voga da “história oral” – contada pelos protagonistas – mas separando por capítulos distintos os momentos em que cada qual se assume como a personagem principal.
Além desta série dedicada aos Rolling Stones, aqui ficam outras mais séries documentais que o ano nos deu.
“My Life as a Rolling Stone” (HBO Max)
“Song Exploder” T2 (Netflix)
“The Andy Warhol Diaries” (Netflix)
“This Is Pop” (Netflix)
Apesar do foco na música que habita o GIRA DISCOS, aqui ficam mais dez exemplos. Todos eles de ficção, cinco correspondendo a longas metragens e cinco a séries.

“A Oeste Nada de Novo” (Netflix)
“O Poder do Cão”, de Jane Campion (Netflix)
“Flee – A Fuga”, de Jonas Poher Rasmunssen (estreia em sala)
“Peter Von Kant”, de François Ozon (estreia em sala)
“The Fablemans”, de Steven Spielberg (estreia em sala)

“Andor” T1 (Disney +)
“Dopesick” (Disney +)
“For All Mankind” T3 (Apple TV)
“The Bear” (Disney +)
“The Playlist” (Netflix)