Com visibilidade internacional conquistada através da Yellow Magic Orchestra, trio pioneiro na história da convergência entre a música eletrónica e as linguagens da canção pop, o japonês Yukihirio Takahashi deixou-nos há poucos dias, Tinha 70 anos. Texto: Nuno Galopim

Se a Yellow Magic Orchestra representou o percurso da sua obra com maior exposição global, a obra do músico, nascido em Tóquio em 1952, tinha já o passaporte sobejamente carimbado quando se tornou baterista da Sadistic Mika Band, banda na qual tocava já o seu irmão e que havia nascido depois de uma viagem do respetivo guitarrista Kazuhiko Kato a Londres, em 1972, da qual regressou fascinado pelo impacte das primeiras manifestações do glam rock. Um disco da banda, entregue a Malcolm McLaren, aterrou nas mãos de Bryan Ferry, valendo ao grupo japonês um convite para fazer as primeiras partes dos Roxy Music na digressão que se seguiu ao lançamento do álbum Siren.
As saídas do guitarrista e da vocalista Mika Fuji levou o grupo a mudar o nome para The Sadistics. Yukihirio Takahashi manteve-se a bordo até 1979 (regressando em episódios posteriores de reunião). Por essa altura tinha já editado Saravah! (1978), um álbum de estreia mais próximo do lounge do que dos mundos pop/rock e pelo qual se cruzam originais mas também versões, uma delas recriando o clássico Volare, de Domenico Modugno. Neste disco tocavam, entre outros colaboradores, Ryuichi Sakamoto (teclas) e Haruomi Hosono (baixo), que por aqueles dias se juntavam para abraçar uma das mais importantes aventuras pioneiras da pop eletrónica: a Yellow Magic Orchestra.

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Com estreia em disco em 1978, a Yellow Magic Orchestra (YMO) viveu então, até 1983, uma primeira etapa que assistiu à sua elevação de fenómeno local a um caso com expressão internacional, surgindo então discos memoráveis, entre os quais Yellow Magic Orchestra (1978), Solid State Survivor (1979), ×∞Multiplies (1980) ou Naughty Boys (1983). Já como baterista da YMO, banda para a qual assegurou diversas prestações vocais, Yukihirio Takahashi começou a levar novos pontos de vista à sua obra em nome próprio, notando-se uma adesão às electrónicas entre os álbuns Murdered by The Music (1980) e Neuromantic (1981), num processo de evolução na continuidade que se prolongou nos seguintes What, We Worry (1982) e Tomorrow’s Just Another Day (1983).
Expressão do bom entendimento entre os três elementos da YMO, Hosono e Sakamoto marcaram presença em todos estes primeiros álbuns a solo, com este último a manter-se ao lado de Takahashi também nos dois discos seguintes. Em 1981, em paralelo à YMO e aos discos a solo cria, com Keiichi Suzuki, a dupla The Beatniks, com a qual gravará até 2018. Ainda nos anos 80 outro parceiro entra em cena. Ele é Steve Jansen, ex-baterista dos Japan que assina a letra de Stranger Things Have Happened (do álbum de 1984 Wild & Moody), primeiro episódio de várias parcerias, entre as quais o single conjunto Stay Close (1986) ou o EP Pulse, já nos anos 90.
No final dos anos 80 juntou aos discos e ao palco a criação de música para televisão, jogos vídeo e trabalhos de produção, alargando depois o espaço de trabalho a outras esferas quando se estreia como ator no filme que teve estreia internacional como It’s All Right, My Friend (1983), de Ryu Murakami e no qual cabia a Peter Fonda o papel protagonista.
Seguiram-se reuniões, quer da Yellow Magic Orchestra quer da Sadistic Mika Band, mais adiante surgindo, em colaboração com o velho parceiro Haruomi Hosono, a dupla Sketch Show, através da qual edita vários discos entre 2002 e 2004. A obra a solo manteve um bom ritmo editorial, ora criando novos títulos ora revistando memórias como, por exemplo, quando, 40 anos depois, regravo em 2018 o seu álbum de estreia a solo, chamando-lhe Saravah Saravah!, projeto que depois levou para a estrada, daí nascendo uma gravação ao vivo.
Em 2020, na sequência de queixas de dores de cabeça, foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral que seria cirurgicamente retirado, seguindo-se uma etapa de convalescença em silêncio, quebrado em outubro desse ano quando nos deu conta que teria completado o tratamento. A notícia da sua morte chegou no passado dia 11. Yukihiro Takahashi foi vítima de complicações de uma pneumonia.