Casa que gravou discos dos Beatles ou Pink Floyd e com um lugar de destaque no universo da música para cinema, os estúdios Abbey Road estão no foco das atenções de um documentário assinado por Mary McCartney, que ali passou muitos momentos. Texto: Nuno Galopim

Não há quem passe pela passadeira perto do cruzamento de Abbey Road com a Grove End Road (Londres) sem tirar uma foto que, muito provavelmente procurará recriar a caminhada dos quatro Beatles sobre aquelas mesmas riscas brancas sobre o asfalto em 1969 e que acabariam por surgir na copa do último álbum que gravaram. Esse disco não só fez daquele lugar um espaço icónico como acabaria por dar aos estúdios ali ao lado (onde os Beatles gravaram quase toda a sua obra) o nome pelo qual todos hoje os conhecemos: Abbey Road. Inaugurados em 1931, então conhecidos como EMI Recording Studios), estes estúdios conquistaram, não apenas com os Beatles, mas na verdade com um conjunto de artistas e discos de grande calibre, um estatuto de reconhecimento pop(ular) como poucos outros seus congéneres alguma vez alcançaram. Se a essa dimensão de reconhecimento global juntarmos as histórias, no plano pessoal, de Mary McCarthey, filha do homem que em 1969 caminhara descalço sobre aquela célebre passadeira, assim nascem os principais focos de interesse de If These Walls Could Sing, documentário (disponível na plataforma Disney+) que nos convida a entrar nos espaços e memórias dosa estúdios Abbey Road.
Tudo começa com uma fotografia de uma bebé sobre uma carpete no mítico Estúdio 2 (aquele onde os Beatles gravavam). Assim encontramos Mary, com o pai, Paul, logo depois, a dar-nos o contexto. Rumamos no tempo, recuando aos dias em que Elgar ali estreava o estúdio maior. Contudo, e já com décadas de gravações ali feitas, coube ao sucesso dos Beatles a transformação daquele espaço de trabalho num cenário digno de ser tratado como… celebridade. A gravação de Sgt Pepper’s é, sem surpresa, um dos ganchos de uma narrativa (que chama Ringo Starr e Giles Martin) e que, mais adiante, junta nomes como os Pink Floyd ou Elton John , vincando todavia a continuada ligação dos estúdios aos universos da música orquestral, ora com imagens históricas de Jaqueline du Pré e Daniel Baremboim ou, mais recentemente, com John Williams (e vale a pena lembrar que as gravações para cinema são, há muito, uma das principais atividades no mapa de trabalhos em Abbey Road.
Jimmy Page recorda o trabalho aqui feito antes dos Led Zeppelin, quando era músico contratado para várias sessões de outros artistas. Os irmãos Gallagher assumem o peso do legado daquele espaço que acabou por se cruzar depois com a história dos Oasis. Nile Rodgers, Cliff Richard, Shirley Bassey e Celeste são outras presenças num documentário que, apesar de pontualmente escutar um ou outro dos elementos da equipa do próprio estúdio, se rende mais vezes ao star power dos músicos do que à presença de técnicos que ali juntaram também os seus nomes à história que as paredes daquela casa podem contar.