Naked Eyes “Burning Bridges” (1983)

Editado há 40 anos, em 1983, o álbum de estreia dos Naked Eyes acabou quase esquecido pelo passar do tempo, apesar do impacte de “Always Something There To Remind Me”. O disco, mesmo assim, guarda interessantes sinais dos tempos da pop de então. Texto: Nuno Galopim

Correspondem, de certa forma, ao modelo dos “one hit wonders”, apesar de, aritmeticamente, o seu segundo single, Promises Promises, ter chegado ainda ao Top 20 britânico, o que os eleva assim a “two hit wonders”… Contudo, e apesar de essencialmente conhecidos pela versão que em 1982 apresentaram de Always Something There To Remind Me (de Burt Bacharah e Hal David, imortalizada então na voz de Sandie Shaw), as mais interessantes contribuições dos Naked Eyes para a história da pop electrónica da primeira metade dos oitentas moram a bordo de Burning Bridges, álbum de estreia editado em 1983.

Eram uma dupla, juntando Rob Fischer e Pete Byrne, que antes haviam militado nos Neon, por onde passaram ainda os músicos que entretanto haviam formado os Tears For Fears. Juntamente com os Tears For Fears (que pouco depois seguiriam outros caminhos), Blancmange ou Yazoo os Naked Eyes eram um entre os muitos duos que haviam surgido após a entrada em cena das novas potencialidades instrumentais dos sintetizadores, seguindo assim as pisadas de pioneiros como os Suicide, Soft Cell ou DAF (inicialmente com formação alargada. Seguindo a visão pop mais luminosa de uns Human League pós-Dare!, os Naked Eyes (e seus contemporâneos) deixavam de lado a carga mais sombria e tensa das electrónicas de finais de 70 e abraçavam o desafio de talhar uma nova pop com estes novos instrumentos, sendo inclusivamente dos primeiros a usar em estúdio o Fairlight, um dos primeiros teclados com sampling (que ajudaria a definir importante marca na identidade sonora de parte significativa da pop de meados dos oitentas).

Acompanhados em estúdio pelo produtor Tony Mansfield (elemento dos New Music que pouco depois seria um dos técnicos mais procurados em clima pop, trabalhando com nomes dos A-ha aos B-52’s) definiram em Burning Bridges uma visão pop mainstream feita de electrónica e elegância que vai bem para lá do efeito açucarado da pompa de Always Something There To Remind Me. Longe do estabelecimento de uma individualidade demarcada (como o fizeram os Yazoo pelo diálogo entre a pop de Vince Clarke e a voz Soul de Alison Moyet ou os Blancmange na sua forma de assimilar temperos menos vulgares), os Naked Eyes construíram mesmo assim um álbum de canções que representam, passados 30 anos, uma marca de identidade que podemos identificar como paradigmática da época. Talvez mais pelas características do som que pela inspiração na escrita, é certo, mas o tempo talvez nos ajude a olhar hoje para Burning Bridges como um álbum que traduz um tempo de construção de uma nova realidade pop usando novas ferramentas.

Mesmo que nomes como os Pet Shop Boys ou Beloved, que surgiriam pouco depois, tenham sabido alcançar horizontes mais distantes (e marcantes). O duo ainda lançou um segundo álbum, Fuel For The Fire (1984) mas sem o mesmo impacte e nunca chegou a atuar ao vivo. A morte de Rob Fisher, em 1999, deixou a eventualidade de um regresso do nome nas mãos de Peter Byrne que, em 2001 lançou um disco a solo, The Real Illusion, no qual inclui temas escritos para um terceiro álbum dos Naked Eyes que não se havia materializado. Em 2005 reativou contudo o nome da banda, primeiro para atuações ao vivo tendo, entretanto, editado já (como Naked Eyes) os álbuns Fumbling with the Covers (2007) e Disguise the Limit (2021).

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