Editado em 1982 o álbum “Einzelhaft”, o primeiro do austríaco Falco, regressa numa edição especial que junta como extras os máxis da altura, lados B e a gravação do concerto que levou a palco pela primeira vez este corpo de canções. Texto: Nuno Galopim

Houve um dia em que um dos responsáveis pela editora austríaca GIG Records chamou a atenção do músico Robert Ponger para o baixista dos Drahdiwaberl, uma banda de Viena. Chamava-se Johann “Hans” Hölzel mas muito em breve todos o conheceriam como Falco, o nome artístico que começara a adotar. Do primeiro encontro entre Ponger e Falco nasceu um entendimento que em pouco tempo lançou bases para uma parceria que se estenderia durante toda a primeira metade da década de 80, gerando três álbuns que elevariam Falco de fenómeno pop de aclamação local na Áustria até ao estrelato global que conheceria aclamação maior em 1985 ao som de canções como Rock Me Amadeus ou Vienna Calling.
O primeiro passo desta parceria foi, em 1981, um single de estreia para o qual estava apontada a canção Helden Von Heute (Alles Wartet Auf), uma evidente homenagem à Berlim de Bowie, cantando os “heróis de hoje”, por caminhos na verdade não muito distantes dos que então seguiam nomes como os Ultravox ou Gary Numan. Acontece que, a bom tempo, houve quem notasse mais potencial na canção que estava apontada ao lado B. Tinha por título Der Komissarr e, apesar dos cenários urbanos mais sombrios que retratava, acabou por ser afinal a escolhida para o lado A. Escolha sensata que acabou com um número um na Áustria, Alemanha, Itália e Espanha, abrindo o caminho para Einzelhaft (ou seja, “prisão solitária”), que chegaria meses depois, já em 1982. Herdeiro de Bowie e em sintonia com os ecos de uma new wave que transformava por aqueles dias os caminhos da pop, juntando os sintetizadores e novas possibilidades cénicas às canções, o disco não esgota em Der Komissarr os argumentos a seu favor, com canções como Auf der Flucht, Maschine Brennt, a vibrar a mesma nova pulsação pop, Granz Wien, a sugerir um retrato da Viena do seu tempo, num espaço sonoro com design mais minimalista ou o já antes referido Helden Von Heute (Alles Wartet Auf).
Uma nova edição “Deluxe” junta ao alinhamento original do álbum as versões longas de Auf der Flucht, Maschine Brennt e Helden Von Heute (Alles Wartet Auf), lados B da época e uma gravação da histórica estreia ao vivo, a solo, de Falco, na edição de 1982 do Popkrone, um pequeno festival onde se apresentavam os nomes mais populares do ano, cabendo ao cantor o lugar de cabeça de cartaz. Este concerto corresponde às únicas ocasiões em que cantou, ao vivo, as canções Zuviel Hitze e Maschine Brennt, que aqui podemos escutar. Pena a dieta de ideias do booklet que se limita a ter textos (muito leves e pouco informativos) de Robert Ponger, uma breve nota sobre o concerto aqui apresentado como extra e uma mão cheia de fotos e recortes de imprensa. Uma edição deste calibre justificava linear notes que ajudassem a contar a história do disco e a contextualizar o aparecimento de Falco na cena pop/rock europeia de então.
“Einzelhaft – Deluxe”, de Falco, está disponível em 3LP e 2 CD numa edição da GiG Records / Sony Music