Editado em fevereiro de 1983 o álbum “Porcupine” teve génese difícil mas acabou por sugerir sinais de ambição para os quais as respostas chegaram na forma de opiniões favoráveis e resultados de mercado mais expressivos do que os até então alcançados. Texto: Nuno Galopim

Um ano antes da obra-prima que se revelaria em Ocean Rain e nascido após um breve hiato que ocorreu após a edição de Crocodiles (1980) e Heaven Up Here (1981), o terceiro álbum dos Echo & The Bunnymen teve uma génese cheia de convulsões, mas acabou por representar um dos momentos com desfecho mais feliz de toda a obra do grupo. Nascidos da saudável agitação que voltara a colocar a cidade de Liverpool no mapa das atenções de quem seguia as novidades do som da frente que emergia entre os ecos da revolução punk, os Echo & The Bunnymen tinham já conquistado um patamar de admiração com as suas primeiras edições em disco e concertos. Mas depois do segundo álbum a etapa que enfrentaram foi, internamente, difícil, com o processo de criação de um terceiro álbum a alongar-se durante meses, intervalo durante o qual o baterista Pete de Freitas produziu e tocou com os Wild Swans e o guitarrista Will Sergeant gravou, a solo, o álbum (instrumental) Themes for “Grind”. Recuperando para o lugar de produtor o conterrâneo Ian Broudie (que anos adiante viveria um espaço de maior protagonismo através dos seus Lightning Seeds), que tinha já trabalhado com os Echo & The Bunnymen, as sessões que se estenderam por vários meses, durante esse intervalo tendo sido editado, ainda em 1982, The Back Of Love, single que depois acabaria integrado no alinhamento do álbum.
Uma primeira versão do disco foi, conta a mitologia, “chumbada” pela editora, seguindo-se novas sessões de trabalho, desta vez juntando a bordo a presença de Lakshminarayana Shankar, compositor e violinista, que acrescem tou a algumas canções do disco uma dimensão orquestral (que se expandiria mais adiante tanto no single Never Stop como em Ocean Rain).
Editado em inícios de fevereiro de 1983 Porcupine acabaria por compensar o árduo caminho pelo qual desenhara o seu percurso. O disco mantém viva a puslão mais angulosa já antes experimentada em canções como My White Devil ou Clay. Mas depois, e como The Cutter revela logo nos primeiros momentos da face A, uma outra elegância e que, sem perder o tom assombrado que cruza o álbum, amplifica uma certa dimensão cenográfica de alma épica que, vincada também pela voz de Ian McCulloch, passa ainda por canções como Porcupine, Heads Will Roll, Higher Hell ou In Bluer Skies, levando a música dos Echo & The Bunnymen a outros patamares, traduzindo uma ambição de crescimento que foi acompanhada também pelas imagens já que, como complemento direto ao álbum, o grupo faz de Porcupine – An Atlas Adventure (com seis das canções do disco) um dos primeiros video álbuns editados em suporte VHS.