Influenciados por Bowie, os Sparks e os Kraftwerk, os Berlin Blondes integraram a família escocesa de bandas ‘new wave’ na viragem dos anos setenta para os oitenta. Editaram um álbum em 1980 e mais três singles. E depois desapareceram… Texto: Nuno Galopim

Por cada disco que fica registado na memória coletiva há muitos outros que acabaram esquecidos pelo caminho. Pelas mais variadas razões, de questões de contextos adversos à possibilidade de (e acontece muitas vezes) certos discos não trazerem nada de verdadeiramente consequente à história daquele tempo em que surgem, não faltam justificações para o mundo de memórias que o tempo vai apagando. E de vez em quando, entre velhas edições em vinil usadas ou, por vezes, através de reedições, há casos esquecidos que, assim, podem vencer o esquecimento e abrir janelas para a (re)descoberta de discos eventualmente votados ao silêncio. Falemos então sobre os Berlin Blondes, uma banda que editou um álbum e três singles entre 1980 e 1981 e que, depois, se separou, deixando as suas canções algo perdidas entre os poucos a que elas então tiveram acesso.
Tal como os Associates, Orange Juice, Aztec Camera, Altred Images ou Simple Minds, os Berlin Blondes surgiram na Escócia em plena euforia pós-punk. Claramente influenciados por Bowie (fase berlinense), os Kraftwerk e os Roxy Music – e estão aqui parte dos condimentos comuns aos new romantics – o quarteto ganhou forma em Glasgow em 1978. De todos os nomes acima apontados aqueles de quem mais se aproximavam eram os Simple Minds (na sua etapa de transição dos setentas para os oitentas). Com uma forte presença das teclas, uma postura vocal que piscava o olho ao tom impositivo de Ron Mael nos Sparks e arranjos pouco dados a coisas simples e pequenas, as canções dos Berlin Blondes por vezes eram de digestão difícil.
Entratam em estúdio na companhia de Mike Thorne com quem gravaram um álbum ao qual chamaram simplesmente “Berlin Blondes”, editado em 1980, e do qual extraíram os singles “Science” e “Framework”. Questões de política interna da banda geraram dissidências e instabilidade antes mesmo de o disco ter chegado aos escaparates. Ainda ensaiaram um passo seguinte em “Marseille”, um single posterior ao álbum que editaram em 1981. Mas por essa altura as tensões ultrapassaram a capacidade de continuaram a trabalhar em conjunto. Deixaram assim uma obra com algumas afinidades com o trabalho que por esses dias bandas new romantic estavam a desenvolver, embora a intensidade do seu som acabe por antecipar mais o som pop denso que, pouco depois, surgiria nuns (também esquecidos) Re-Flex.
O tempo separou os caminhos dos quatro Berlin Blondes. O vocalista Steven Bonomi virou chef. O teclista Jim McKniven (na altura assinava Jim Spender) juntou-se aos Altred Images e, depois, aos One Dove. O guitarrista e o baixista David Rudden mantiveram-se ligados ao mundo da música, embora em projetos sem mediatismo maior.
O disco dificilmente será motivo para uma epifania. Mas para quem gosta de new wave, daquela pop na transição dos setentas para os oitentas com sabor pesado a sintetizadores analógicos, para quem tem o Bowie de “Low” ou os Kraftwerk de “The Man Machine” entre as referências, para quem tem os Ultravox ou Simple Minds de inícios dos 80s ou os Visage na sua carteira de boas memórias, esta pode ser uma boa (re)descoberta. Já agora vale a pena lembrar que “Science” não era de todo canção silenciosa na rádio portuguesa em 1980. Quem por esses dias ouvisse o “Rock Em Stock” (que usou inclusivamente a canção numa compilação) poderá lembrar-se dos Berlin Blondes…