Pink Floyd “The Dark Side of the Moon” (1973)

O álbum dos Pink Floyd editado a 1 de março de 1973 e traduz um momento de transformação tanto na demanda musical como na focagem temática num espaço concreto, definindo um dos maiores paradigmas daquilo a que chamamos um “álbum conceptual”. Texto: Nuno Galopim

Criar um disco diferente… Esse era o desafio, que começou por ganhar forma numa conversa na cozinha da casa do baterista Nick Mason, desde logo com Roger Waters a propor uma abordagem temática focada sobre eventuais fontes de desequilíbrio mental ligadas à vida moderna, a elas chegando não apenas por via das pressões do dia a dia que podem gerar focos de ansiedade, mas também pelas experiências vividas por todos com o amigo e antigo vocalista Syd Barrett. Ao mesmo tempo nascia uma vontade aprofundar os caminhos musicais recentemente alcançados com “Echoes”, a peça de longa duração que surgira na face B de “Meddle” (1971), visando a eventual criação de um novo poema sonoro.

Em sessões de trabalho, recuperando inicialmente algumas peças já escritas, juntando com o tempo novas composições, assim começou a ganhar um ciclo de canções que, antes mesmo de levado a disco, em parte começou a passar pelos palcos, muitas vezes em formas ainda bem distintas das que acabariam em disco ainda em 1972. O corpo principal de sessões de estúdio, em Abbey Road, acabou por moldar progressivamente as ideias, num arco de tempo que se estendeu em vários momentos separados ao longo de meses (há imagens dessas sessões no filme “Live At Pompeii”). Pelo caminho houve diversas atuações ao vivo e também uma segunda colaboração com o cineasta Barbet Schroeder, com quem tinham já trabalhado em “More” e para quem criaram a música para o então novo “La Valée”, que acabariam por editar em disco em 1972 no álbum “Obscured By Clouds” que entretanto deu aos Pink Floyd um caso de sucesso nos EUA que não passou despercebido à editora que tinha no passo seguinte o último disco previsto no contrato então vigente.

Aos poucos o ciclo de canções ganhou corpo e coesão, contando com contribuições importantes, como a do engenheiro de som Alan Parsons (o mesmo que mais adiante criaria o seu próprio grupo). As canções cruzavam heranças naturais dos caminhos recentemente percorridos pelos próprios Pink Floyd, cada vez mais distantes dos vapores do psicadelismo que caracterizava o seu som nos tempos, entre 1965 e 67, em que Syd Barrett fora a voz e principal timoneiro do grupo. As novas composições tiravam partido das visões algo cinematográficas entretanto exploradas, juntava a presença de novos sintetizadores, cruzava-se com episódios próximos da chamada música concreta (basta escutar a introdução de “Money”, com uma colagem de captações de sons) e, fruto de uma ideia proposta por Waters já na reta final da produção, adicionou excertos de entrevistas com figuras que orbitavam em torno dos estúdios Abbey Road e que, espalhadas pelo alinhamento, ajudaram a vincar a ideia de um arco narrativo, ideia que a própria sequenciação das canções, que se sucedem sem interrupções, salvo na mudança de face (exigida pelo formato do LP em vinil), igualmente definia. 

A capa representou o efeito de cereja sobre o bolo, nascendo de um projeto da equipa do designer Storm Thorgerson  que já trabalhava há algum tempo com os Pink Floyd. O desenho de um prisma (num fundo negro) sobre o qual incide um raio de luz que é decomposto, foi, reza a mitologia, escolhido de forma muito rápida e unânime pelos elementos do grupo mal encararam a imagem pela primeira vez. Uma nota curiosa é a omissão do violeta no espectro de luz, algo que contraria o que a física mostra ser a realidade. 

O título, “Dark Side of The Moon”, chegou a estar brevemente comprometido já que a banda folk rock Machine Head editara um disco com o mesmo nome recentemente, o que levou os Pink Floyd a considerar alternativas, como, por exemplo, “Eclipse” (que foi título de trabalho durante algum tempo). O insucesso do álbum dos Machine Head devolveu-os à sua ideia e título originais, não usando contudo o subtítulo “Dark Side of the Moon: A Piece for Assorted Lunatics” que a certa altura fora usado internamente.

Apesar de acompanhado pelo lançamento de dois singles (“Money” e, depois, “Us and Them), o álbum rapidamente se impôs por si mesmo como uma peça votada a uma audição como um todo, destacando o caráter conceitual da sua construção (formal e temática). O sucesso do disco, lançado a 1 de março de 1973 nos EUA (e só duas semanas mais tarde no Reino Unido) foi planetário, juntando exemplares vendidos a cada ano que passa, fazendo do disco o terceiro mais vendido da história, ultrapassando já os 45 milhões de exemplares. Nos anos mais recentes, com o regresso do vinil aos consumos de música gravada, o álbum surge invariavelmente entre os mais vendidos a cada ano que passa. 

Hoje a Antena 1 vai assinalar, pelas 16.00 horas, os 50 anos de “Dark Side of The Moon” numa emissão especial conduzida por Nuno Galopim que conta com as presenças de Álvaro Costa e João Lopes.

2 pensamentos

  1. Tenho uma lista infinita (o exagero é intencional) de discos entre 60/70 que são definitivos e atravessarão os tempos: Astral Weeks do Van Morrison é um deles. Outro que navega nesse mar: The Dark Side of the Moon. São momentos únicos e eternos. Estão em todas as minhas playlists. Belo texto é oportuno ter postado. O meu abraço.

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