A Flock of Seagulls “A Flock of Seagulls”

A reedição do álbum de estreia dos A Flock Of Seagulls recupera um disco que traduz sinais de um tempo em que uma nova pop viçosa e dançável surgia entre heranças da new wave e a presença de uma nova geração de sintetizadores. Texto: Nuno Galopim

Houve bandas que ficaram registadas na memória coletiva com um certo desdém, em parte acentuado pelo fosso que, nos anos 80, opunha as duas principais frentes de trabalho no jornalismo musical (o que tinha por paradigma semanários como o NME, Sounds ou Melody Maker e outro que nascera com revistas que iam da The Face à Smash Hits, ambas bem distintas entre si, é verdade). Nascidos em Liverpool em 1979 – contemporâneos portanto de conterrâneos como os Teardrop Explodes, Echo & The Bunnymen ou OMD – os A Flock Of Seagulls eram muitas vezes mais lembrados pelos exuberantes penteados do vocalista do que pela obra registada em disco. E, se bem que depois de 1984 a sua música tenha rumado a um patamar de discreta inconsequência, a verdade é que os seus primeiros passos são dignos de merecer um lugar de relevo na história da invenção de uma nova pop que nasceu diretamente das heranças da new wave, cruzando esse viço primordial com a emergente presença de novos sintetizadores. O seu álbum de estreia, “A Flock of Seagulls” agora reeditado pode ser, então, um bom motivo para uma (re)descoberta da banda.

Nas origens está um núcleo criado em torno do vocalista Mike Score, com formação “clássica” fixada quando, ainda nos primeiros tempos, ao grupo se juntou o guitarrista Paul Reynolds, cuja presença seria determinante em canções que, mesmo cenografias com uma forte presença de sintetizadores e dotadas de uma arquitetura rítmica intensa, tiveram na guitarra o principal motor de entusiasmo. Ensaiavam sobre o salão de cabeleireiro de Score (daí a opulência dos penteados) e gravaram uma sessão para John Peel por alturas do seu single de estreia, “Space Age Love Song”, que foi lançado numa independente, a Cocteau Records. Os primeiros sinais foram suficientes para cativar a Jive Records, que os chamou e com eles gravou o álbum de estreia, que chegou aos escaparates das novidades em finais de abril de 1982. 

Pelo alinhamento, além do single de estreia, surgiam canções de viciante fulgor como “Telecomunication”, “Modern Love is Automatic” ou “I Ran (So Far Away)”, esta última entretanto transformada num fenómeno de popularidade planetário, representando de resto um claro exemplo do que era uma pop que então procurava caminhos de redescoberta assimilando diversas marcas de sinais dos tempos, não apenas nos sons intensos dos sintetizadores, guitarra e baixo, mas também numa agenda temática repleta de referências ao futuro (e à ficção científica). Entre os trunfos maiores do álbum está ainda o magnífico “DNA”, instrumental que seria depois galardoado com um Grammy. Quatro décadas depois, escutar estas canções (que não nos iludem quanto ao tempo em que nasceram) o álbum revela afinal uma resistência maior do que o caráter efémero dos momentos de sucesso então vividos poderia sugerir. Juntamente com os discos de então de uns Duran Duran, Ultravox, Classix Nouveaux ou os primeiros passos dos Talk Talk, está aqui um álbum que retrata, como poucos, um entusiasmo que então servia janelas de escape a dias difíceis que caracterizavam a cenografia social do espaço onde esta música então nascia. 

Além da reedição do álbum em vinil acaba de surgir uma versão em CD com extras que inclui lados B, as versões editadas nos singles, sessões registadas para a BBC e excertos de atuações ao vivo.

“A Flock Of Seagulls”, dos A Flock Of Seagulls, está disponível em LP, em 3CD e nas plataformas digitais numa edição Jive/BMG.

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