Editado a 6 de março de 1973, “Closing Time” revela caminhos entre a canção folk e climas jazzy, abrindo um ciclo de sete álbuns que gravaria para a Asylum Records até 1980. Versões por Tim Buckley ou os Eagles chamaram atenções para este disco. Texto: Nuno Galopim

Houve um tempo em que Tom Waits era um entre tantos outros talentos emergentes a procurar caminho (e sustento) no circuito californiano de clubes. Entre San Diego e Los Angeles ia cantando as canções dos outros (sobretudo Dylan) e ensaiando passos para a sua própria voz criativa. Passou várias vezes pelo mítico El Troubadour, casa marcante em West Hollywood que colocara já no mapa nomes que tinham conquistado entretanto visibilidade maior. E o dia chegou em que encontrou não apenas um parceiro de trabalho que lhe deu mão a gerir um caminho, como um editor que o chamou a um dos seus catálogos, estreando-se, a 6 de março de 1973, na Asylum Records, para a qual gravaria uma série de sete álbuns até 1980. “Closing Time” foi então o primeiro e, apesar de inicialmente ter conhecido um percurso discreto, com o tempo conquistou reconhecimento, desde logo deixando contudo bem claras algumas pistas pelas quais a sua música iria evoluir nos anos seguintes.
Há em “Closing Time” ecos ainda bem claros das vivências entre palcos de clubes, pianos e os balcões de bares que cenografavam então as noites do jovem Thomas Alan Waits, então com 23 anos. Já com primeiras gravações registadas em 1971 (e que chegariam a disco apenas nos anos 90, entre os dois volumes publicais como “The Early Years”, onde surgem algumas das composições que surgiriam em álbuns de 73 e 74), Tom Waits procurava encaminhar as suas canções para climas mais jazzy, acabando contudo o álbum por colocar em cena um contraponto sugerido pelo produtor Jerry Yeaster, que imaginara visões mais próximas da folk e do que era, então, um espaço partilhado por vários novos cantautores daquelas bandas. E é do entendimento entre estas visões, lançadas sobre uma coleção de canções que ganham forma em sessões de gravação em 1972, que ganha forma o álbum que então revelou Tom Waits para lá das casas que então já o escutavam.
Apesar de algum maior impacte internacional (sobretudo na Irlanda ou Reino Unido), esta primeira coleção de canções de Tom Waits na verdade cativou maior visibilidade através de versões que, por sua vez, devolveram atenções ao disco de onde tinham provindo. Uma leitura de “Martha” (uma das duas faixas com arranjo orquestral) por Tim Buckley, ainda em 1973, e duas abordagens a “Ol’55” (canção já antes captada, numa versão diferente, nas sessões de 1971 que depois emergiram em “The Early Years”) pelos Eagles ou Fairport Convention em 1974, representaram importantes janelas de comunicação que, como outras mais versões criadas mais adiante, cativaram muitos que, disco a disco, começaram a reconhecer em Tom Waits um criador de personagens e narrativas e dos maiores cantautores da sua geração.