Tina Turner (1939-2023)

Nascida no Tennesee em 1939, com vida na música desde finais dos anos 50, a vida de Tina Turner conheceu um renascimento a partir dos anos 80, numa etapa que a elevou ao muito raro patamar das estrelas com sucesso e reconhecimento planetário. Texto: Nuno Galopim

Todos lembramos a força rara com que enfrentava o palco. Um fulgor que partia das sugestões da música, mas que tanto a voz como o corpo depois materializavam em momentos que não deixavam ninguém indiferente. Viveu uma primeira etapa em duo, ao lado do marido Ike Turner (que lhe deu o nome artístico Tina), mas foi sobretudo uma outra etapa, a partir dos anos 80, que lhe deu o estatuto de reconhecimento global. Aos 83 anos, tendo registado há 24 anos o seu último álbum e deixado os palcos depois de uma digressão entre 2008 e 2009 na qual assinalava os 50 anos de carreira, Tina Turner deixou-nos. A obra que fixou, as vastas plateias que cativou, lembrarão sempre uma das maiores intérpretes da história da música popular e um percurso que criou pontes entre caminhos vários, alargando horizontes, mas nunca abdicando do viço primordial do rock.

Começou cedo, a apanhar algodão, ainda em menina, com a família, no Tennessee, onde nasceu (em Brownsville), em 1939. Ainda muito jovem trabalhou como empregada doméstica e enfermeira. Cantava na igreja e foi de um encontro com Ike Turner (considerado como o autor da primeira canção de rock’n’roll, em 1951), que o seu caminho profissional a levou definitivamente à música. Em conjunto com Ike criara um projeto comum (Ike & Tina Turner Revue) que encheu salas e foi gerando uma discografia que conheceu um primeiro episódio de sucesso maior – e dimensão internacional – quando, com produção de Phil Spector grava “River Deep Mountain High” (1966), superando o impacte desta canção cinco anos depois, com uma versão de “Proud Mary” (original dos Creedence Clearwater Revival). A vida doméstica longe de pacífica, com frequentes e repetidos episódios de violência física e psicológica que a própria descreveria mais tarde na autobiografia “I Tina” acabou por ditar o fim da dupla. 

Tina Turner, que tinha já editado dois primeiros álbuns a solo antes do fim da parceria com Ike, e conquistado já um momento de destaque na história do cinema ao interpretar a figura de Acid Queen em “Tommy”, toma o seu caminho nas mãos. Mas os primeiros tempos a solo não são fáceis. E o seu quarto álbum a solo, “Love Explosion”, em 1979, acaba por ter vendas tão discretas que a editora termina então o relacionamento com a cantora. Não desiste. Canta em clubes e salões de baile. Por essa altura é convidada por Rod Stewart para com ele cantar “Hot Legs” no Saturday Night Live.

Pouco depois faz as primeiras partes da digressão americana dos Rolling Stones em 1981. E é levada a estúdio por Martyn Ware e Ian Craig Marsh (dos Heaven 17 e da British Electric Foundation) para interpretar uma versão de “Ball Of Confusion” (que surge no álbum coletivo “Music Of Quality and Distinction”, em 1982). Com eles volta a trabalhar pouco depois, chamando-os, já sob um novo contrato com a Capitol, para produzir a gravação de uma versão de “Let’s Stay Together” (1983), um clássico de Al Green, single que trepa até ao número um da tabela de música dança da Billboard e atinge o número 6 no Reino Unido, seduzindo muitos outros mercados europeus. Este seria o primeiro passo que a levaria a um patamar de sucesso como nunca antes tinha conhecido, e que teve o seu primeiro alicerce no magnífico e incrivelmente bem sucedido “Private Dancer”, editado em 1984.

O impacte de “Private Dancer” abre uma etapa de triunfo planetario, que junta a este outros cinco álbuns e fixa na memória coletiva canções como “What’s Love Got To Do With It” ou “The Best” e a leva, em 1995, a conquistar um lugar na história das canções para os filmes de James Bond, com “Goldeneye”, composta por Bono e The Edge, dos U2.

Nesta etapa de reconhecimento maior da sua música surgem duetos com David Bowie ou Bryan Adams, Rod Stewart ou Eric Clapton, entre outros, assim como uma outra importante passagem pelo cinema, no terceiro capítulo da saga “Mad Max”, para o qual grava a banda sonora (gerando aí dois novos singles de grande impacte, nomeadamente “We Don’t Need Another Hero” e “One Of The Living”).

O cinema acolheria ainda a sua história em 1993 em “What’s Love Got to Do with It”, filme de Brian Gibson que valeu a Angela Basset e a Laurence Fishburne nomeações para os Óscares pelas suas recriações das personagens de Tina e Ike Turner. Afastada por música por vontade própria, viveu os últimos anos na Suíça. Recentemente tinha concedido uma entrevista que serviu de base ao documentário biográfico “Tina”.

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