Editado a 25 de maio de 1973, catapultado para um patamar de sucesso maior, meses depois, com a música descoberta por muitos no filme “O Exorcista”, o álbum “Tubular Bells” foi o ponto de partida tanto para o autor como para a editora Virgin Records. Texto: Nuno Galopim

Um muito jovem Mike Oldfield, apenas com 17 anos, integrava como baixista a Whole Band, projeto reunido por Kevin Ayers (ex-Soft Machine) que, em 1970, estava nos estúdios Abbey Road a gravar um álbum. E nos horários em que não havia sessões de gravação agendadas, Mike ficava ali a experimentar a multidão de instrumentos que estavam espalhados pelo estúdio. Esse processo de descoberta de timbres e o facto de, meses depois, o próprio Kevin Ayers lhe ter oferecido um gravador de duas pistas, representaram na verdade os primeiros passos no caminho da criação de um álbum, longe ainda estando o jovem Oldfield de imaginar o impacte cultural que teria.
O engenho técnico (na gestão da forma de usar as limitações de um gravador de duas pistas) permitiu dar forma a uma visão que começou por ganhar forma numa maquete. Tal como o fizera Terry Riley em “A Rainbow In Curved Air” ou, mais recentemente, Paul McCartney no seu álbum de estreia, Mike Oldfield tocou ele mesmo os instrumentos que foi juntando numa visão que tanto traduzia os sinais do tempo do rock progressivo como escutava pistas dos minimalistas norte-americanos, colocando em cena diálogos entre a música repetitiva e acontecimentos que iam entrando em cena como que desenhando uma narrativa. Assim foi ganhando forma a primeira parte de um disco que só ganhou nome em estúdio quando, após Oldfield ter desafiado o músico e poeta Vivian Stanshall a fazer o papel de mestre de cerimónias, apresentando os instrumentos, escuta o desfecho da sua intervenção, enunciando “tubular bells”!
A gravação em estúdio, apesar de manter Oldfield como presença dominante, acabou por aceitar algumas outras contribuições. E juntou depois a esta peça inicial uma outra, igualmente extensa, na qual marcam presença elementos da música folk e outras ideias, como que lançando logo ali um caderno de referências às quais o próprio músico regressaria em discos posteriores.
Sem haver editora que quisesse lançar o disco, coube a Richard Branson, que em tempos tinha já escutado a maquete inicial e acompanhado todo o processo, decidir que ele mesmo o faria, abrindo assim com “Tubular Bells” o catálogo da Virgin Records. Editado a 25 de maio de 1973, o disco causou impacte, e gerou até uma atuação de grande escala no Queen Albert Hall (Londres) um mês depois de o disco ter chegado às lojas. Coube contudo à presença da sequência inicial da Face A do disco em duas curtas sequências de “O Exorcista”, filme de William Friedkin estreado meses depois, ainda nesse ano, o papel de amplificador do sucesso, que acabaria por transformar o álbum não apenas num primeiro triunfo para Mike Oldfield e a Virgin Records, mas também a conquista de um raro lugar no panteão dos discos culturalmente significativos do seu tempo. Editado em 1975, “The Orchestral Tubular Bells”, com arranjos de David Bedford para a Royal Philharmonic Orchestra, abriu caminho uma série de variações e sequelas, nenhuma delas nunca comparável ao disco original.