O novo disco a solo de Paul Weller leva o músico britânico a olhar para várias referências e etapas pelas quais passou… E reencontra, acima de tudo, um caminho que podia ser o de um retomar dos trilhos que em tempos seguiu através dos Style Council. Texto: Nuno Galopim
Relativamente ignorado entre nós (na verdade acho que a coisa começa logo mal se passa o Canal da Mancha), Paul Weller é, contudo, um dos mais aclamados, respeitados (e bem sucedidos) dos músicos que o Reino Unido começou a ouvir na década de 70. Da assimilação muito pessoal (e rica em vitaminas de boas ideias) do fulgor lançado pela revolução pelo The Jam à excelência da elegância pop que talhou nos anos 80 através dos Style Council, passando depois pela rara abertura de horizontes pela qual tem vindo a caminhar a solo desde o início dos anos 90, Paul Weller conseguiu com este seu novo disco o (raro) feito de ter levado um álbum seu ao número um da tabela de vendas no Reino Unido nas cinco décadas em que já editou discos. Paul Weller é um guardião de memórias das quais se alimenta para lançar novas ideias. E On Sunset, o seu novo disco, mesmo sem ser um manifesto de síntese de todo um percurso, é talvez o álbum a solo no qual mais abraça heranças que a sua própria obra já antes explorou.
On Sunset é um disco de um veterano que quer estar bem com o seu percurso de vida. E essa paz interior atravessa um alinhamento que contrasta com os tempos de ansiedade e assombração futura em que fazemos agora o nosso dia a dia. Olha atrás, mas sem nostalgia. E diz-nos que tudo aquilo foi ele. É ele… E não fecha a porta futura a nenhuma possibilidade. Há poucos meses editou no EP de música eletro-acústica In Another Room uma expressão de uma faceta sua que não esconde um entusiasmo pela música exploratória. Essa pulsão mais desafiante não está de todo ausente em frestas de On Sunset (e basta escutar a reta final de Mirror Ball, a brilhante canção pop épica que abre o disco). Mas é da revisitação de memórias formadoras (que passam por velhos discos de soul e funk) e de caminhos que as suas canções ensaiaram desde discos como o mais exuberante Sonic Kicks ou o mais delicado True Meanings, não esquecendo os The Jam e, sobretudo, os Style Council, que nasce o tutano de uma coleção de canções que encontra unidade na diversidade.
Vale a pena sublinhar aqui a presença saborosa de ecos dos Style Council… Até porque, de toda a obra a solo de Paul Weller, On Sunset é de todos os seus discos o que poderia ter nascido numa segunda vida deste seu mítco duo. Não apenas pelo facto do seu velho parceiro Mick Talbot tocar hammond em algumas faixas ou de marcar um reencontro com a mesma editora que recusou editar o desafiante Modernism: A New Decade, álbum que teria juntado justificadamente o duo à emergente cena house que revitalizava na época a soul britânica de então (escute-se More e notem-se aqui as heranças, natutralmente sob o filtro do tempo que passou). A ligação natural de On Sunset a memórias dos Style Council pode ter sobretudo a ver com o modo como algumas destas canções escutam heranças soul e pop segundo linhas que encontram em álbuns de Paul Weller nos anos 80 a fundação de um livro de estilo que, com o tempo, ganhou sabor e identidade só como qualquer grande referência clássica o pode fazer.
On Sunset é, como o foram já Chaos and Creation in The Backyad de Paum McCartney ou ou recente Alles im Allen dos Einsturzende Neubauten, um disco de veterania. Apenas possível com o lastro de tempo que uma vida e uma obra podem lançar. E não deixa por isso de ser curioso o facto de encontrarmos ocasionalmente entre o alinhamento do novo álbum rotas de encontro com uma dimensão (igualmente veterana) que a obra de Bowie começou a explorar quando passou a olhar mais para o seu passado do que para o futuro que poderia ter pela frente. Rockets é dos melhores exemplos de herança de Bowie. Pena apenas que a edição em vinil (duplo) deixe de lado alguns mimos do alinhamento da edição DeLuxe, como o instrumental carregado de eletrónicas que se escuta em 4th Dimension…
“On Sunset”, de Paul Weller, está disponível em 2LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Polydor.